
O ex-presidente Jair Bolsonaro abandonou o comportamento explosivo que marca sua trajetória política e, com equilíbrio, respondeu a todos os questionamentos no interrogatório desta terça-feira (10).
Mirando seus eleitores, minimizou tratativas sobre medidas de exceção que impediriam a posse de Lula, reduziu a opiniões e críticas os ataques infundados ao sistema eleitoral e tentou se distanciar de defensores mais radicais do governo, entre eles militares.
Certos de que será difícil evitar uma condenação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente e seus advogados apostaram na ideia de demonstrar que há um exagero na interpretação das atitudes do réu, justificando a narrativa de injustiça e de excessos na provável responsabilização dele.
Em várias oportunidades durante a fala, o ex-presidente tentou demonstrar compromisso com a democracia e as instituições, citando colaborações com a transição para o atual governo e com a gestão de Michel Temer, que o antecedeu.
Em tom amigável, o ex-presidente pediu desculpas por sugerir publicamente que ministros do STF receberam pagamentos milionários de forma indevida, e até brincou que seu interrogador e maior algoz, o ministro Alexandre de Moraes, poderia concorrer como vice na sua chapa em 2026. Chamou de “malucos” os militantes que ficaram acampados em frente aos quartéis.
Como não é praxe que os réus sejam confrontados durante o interrogatório, Bolsonaro ficou livre para falar o que queria por tempo indeterminado. Além de se defender, usou a oportunidade para repetir longamente os feitos de seu governo.
Embora não seja regra em suas manifestações públicas, a postura sóbria adotada por Bolsonaro está longe de ser inédita. Entre o primeiro e o segundo turnos das eleições de 2022, por exemplo, ele deixou de lado as críticas às urnas eletrônicas porque enxergava a possibilidade de virar a desvantagem. Ou seja, a ideia à época era afastar a imagem de radical para conquistar eleitores de centro.
Três anos depois, não é difícil prever o que virá depois do interrogatório. O Bolsonaro “paz e amor” voltará suas forças ao Supremo assim que enxergar os primeiros sinais de condenação. Muito mais do que eleger um aliado para comandar o Planalto no próximo pleito, o que o ex-presidente busca é consolidar uma bancada no Senado que possa aprovar impeachment dos ministros que hoje o julgam.