
O presidente Lula decidiu trocar o comando da comunicação do governo por achar que o contato com a população precisa ser mais efetivo. Mas, a cada nova entrevista, entrega de bandeja à oposição novos motivos para uma campanha crítica ao governo.
Desta vez, Lula deixou de explorar as verdadeiras causas da alta dos preços de alimentos nos supermercados para defender um "processo educacional" da população, estimulando que produtos caros não sejam consumidos como forma de pressionar os supermercados a reduzirem o valor das mercadorias.
Há uma lógica sobre a redução de consumo como forma de baratear os preços? Óbvio que há. Mas o papel de um presidente da República é trabalhar para reduzir os custos de produção e desequilíbrios de mercado, não "educar" o povo para fazer o que ele próprio tem capacidade (e muitas vezes necessidade) de decidir.
— Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro. O povo não pode ser extorquido. A pessoa sabe que a massa salarial cresceu, que o salário aumentou, aí aumenta o preço — disse Lula, a rádios da Bahia.
Se o brasileiro vai deixar de comprar café ou vai diminuir o consumo porque o preço subiu, cabe a ele decidir. Ao governo, resta a responsabilidade de criar ambiente favorável para gerar a valorização do real frente ao dólar, para que a inflação seja controlada não apenas pelo aumento de juro, e o país tenha oferta suficiente de produtos que permitam concorrência.
Na mesma entrevista, Lula ainda tentou colocar na conta do ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a culpa pela escalada da Selic, ignorando que diretores indicados no atual governo e inclusive o novo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, defenderam o mecanismo como forma de controlar a inflação.
Há quem diga que a oposição vai criar problemas sempre, e que tudo é passível de críticas para quem está do outro lado do balcão. Sim, este é o papel de qualquer oposição. Mas é inegável que Lula tem se esforçado para facilitar a vida dos adversários.