
No dia seguinte ao que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evidenciou a falta de avanço na negociação do tarifaço de 50% sobre a importação de produtos brasileiros nos Estados Unidos, o Brasil ganhou improváveis aliados. De um lado, a Suprema Corte americana iniciou a apreciação do recurso da Casa Branca a decisões de cortes inferiores que consideraram ilegal a política tarifária de Donald Trump.
O mais elevado tribunal americano é dominado por republicanos: tem integrantes indicados por Trump (três) e antecessores do mesmo partido. No entanto, isso não garante vitória das tarifas. Como demonstrou o episódio do vídeo com o ex-presidente republicano Ronald Reagan, até Trump o partido era contra esse tipo de nacionalismo econômico. E ainda que a decisão seja favorável à Casa Branca, o aumento da exposição do tema exige mais flexibilidade do governo americano.
Ainda mais improvável, a eleição de um candidato muçulmano e socialista à prefeitura de Nova York, Zohran Mamdani, também abala a percepção de apoio monolítico a Trump nos EUA. Até mais do que o personagem ou o partido – nova-iorquinos são majoritariamente democratas –, a contagem dos votos relativiza a força do atual presidente: o candidato republicano fez apenas 7,1% dos votos. É verdade que Trump apoiou o segundo colocado, Andrew Cuomo – democrata que, derrotado nas prévias, concorreu como independente –, mas o sinal amarelou. inclusive porque o presidente fez questão de nacionalizar a disputa.
Outras eleições realizadas na terça-feira (4) também foram desfavoráveis a Trump. Democratas venceram as eleições para o governo de Nova Jersey e Virgínia, Estado vizinho ao "D.C." outro nome da capital, Washington, que fica no Distrito de Columbia.
Não é uma derrota absoluta, mas é um alerta de que a Casa Branca enfrenta descontentamento. E é nesse clima que o ex-presidente Barack Obama deixou a discrição de lado e passou a fazer comícios com fortes críticas ao sucessor.
Em público, Trump pode dizer que faltou seu nome na cédula (veja abaixo). Nos bastidores, todos sabem como resultados como esses provocam ondas de reavaliação em qualquer governo. Isso não significa que agora a alíquota adicional de 40% para o Brasil esteja com os dias contados. Até a negociação com a China, que deixa um relativamente pacato país sul-americana com tarifa maior do que a do grande inimigo asiático, pode ajudar a tirar o ranço da conversa.
E por fim, mas não menos importante, o shutdown (paralisação de serviços federais) acaba de se tornar o mais longo da história americana. Houve tentativa de culpar os democratas, mas sempre que isso ocorre, o gestor público de turno – é disso que se trata, afinal – não sai ileso da má repercussão das agruras que acompanham esse tipo de situação. O próprio Trump reconheceu que a interrupção de serviços e pagamentos levou à derrota dos republicanos.



