
Foi um caminho longo e difícil entre a imposição da alíquota adicional de 40% sobre a importação de produtos brasileiros nos Estados Unidos, que resultou no tarifaço de 50%, e o telefonema entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. O resultado foi obtido com a união de forças entre a diplomacia oficial e o lobby empresarial no lado nacional, e tem componentes ainda não 100% identificados no lado americano.
Os indícios apontam que, para convencer o lado de lá a abrir negociações, pesou não só a ameaça de alta da inflação mas também o humor do americano médio. Isso ficou claro por uma das frases relatadas na conversa da segunda-feira (6) entre Lula e Trump. O presidente americano mencionou que seu país estava "sentindo falta" de produtos brasileiros, como o café.
Agora, tão importante quanto observar se Trump vai manter o discurso delineado em publicação na sua rede social, ou seja, foco em economia e comércio entre os dois países, é tentar projetar os próximos passos de forma realista. Como o bom negociador que pretende ser, o presidente americano fez o "good cop" (o bom policial dos filmes do gênero) com um post simpático, mas indicou um "bad cop" para tocar a conversa à frente, o secretário de Estado, Marco Rubio.
Apesar da expectativa positiva criada pela conversa de 30 minutos, é preciso considerar que um dos objetivos de Trump com a imposição de tarifas é simplesmente arrecadar mais. O motivo é simples: os EUA tem a máquina de imprimir dólares, mas também déficits orçamentário e comercial gigantescos.
Em junho, a receita com tarifas alfandegárias havia chegado a US$ 27 bilhões, em agosto já subiu para US$ 30 bilhões e, no acumulado do ano, já são US$ 165 bilhões, conforme o mais recente relatório do Departamento do Tesouro. Para reduzir tarifa, mesmo para um dos únicos três países do G20 com o qual tem superávit, em vez de déficit, os EUA de Trump vão querer algo em troca. Esse será o papel de Rubio: arrancar do Brasil alguma vantagem.
Conforme a nota oficial do governo brasileiro, Lula "solicitou" o fim da tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros ainda sobretaxados. É pouco provável que isso ocorra no curto prazo. Mais rápida pode ser a inclusão na lista das exceções dos produtos que interessa aos EUA comprar mais barato do Brasil.
E, avaliam consultores de comércio exterior, a consequência imediata mais provável é o fim – ou, ao menos, a interrupção – de sanções contra agentes públicos brasileiras. Menos por concessão do que por constatação: o objetivo não foi atingido, e insistir na estratégia é admitir derrota, o que Trump detesta.
Embora o Departamento de Estado de Rubio possa vetar ou cancelar vistos, a imposição da Lei Magnitsky é uma decisão do Departamento do Tesouro, comandado por Scott Bessent, descrito como o "adulto na sala" do governo Trump. Mas se a hierarquia for seguida e prevalecer o foco em economia e comércio, pode ser o "início de uma bela amizade", com a ironia que marca a famosa frase de encerramento do filme Casablanca.





