
Nos últimos dias, tudo o que se ouvia sobre a antecipada conversa entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e o dos Estados Unidos, Donald Trump, era de que seria provavelmente adiada sem previsão devido à atenção do americano tanto à uma solução para o shutdown quanto à tentativa de paz no Oriente Médio.
Foi um segredo muito bem guardado. No final desta manhã, ao chegar ao Ministério da Fazenda, o titular da pasta, Fernando Haddad, afirmou que o "combinado" é de que haverá uma nota detalhando os pontos da conversa. Resistiu bem às tentativas dos repórteres de obter informação, mas finalmente cedeu:
— Foi positiva.
O encontro teria ainda, do lado brasileiro o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. No mercado, a expectativa é de fim de escalada de retaliações dos EUA contra o Brasil. Pouco depois da confirmação de Haddad, o dólar recua 0,2%, mas a bolsa também cai 0,3%.
Em destaque nos principais sites brasileiros, a informação ainda não aparece na capa dos mais importantes meios americanos. O pouco que se sabe, até agora, é de que seria uma espécie de preparação para a conversa presencial que seria mantida no final deste mês em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a reunião de cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que se realiza em Kuala Lumpur, na Malásia.
A expectativa de Alckmin, antes dessa primeira aproximação, era obter maior número de exceções para setores exportadores nacionais:
— Vamos trabalhar para reduzirmos essa alíquota e, de outro lado, excluir o máximo de produtos que a gente puder do tarifaço — afirmou sobre os objetivos da reunião da qual deve participar.
Possíveis pontos de debate
- Tarifas: segundo o USTR, o Brasil concede tarifas preferenciais mais baixas às exportações de certos parceiros comerciais globalmente competitivos, prejudicando as exportações americanas. A desistência da China de tratamento preferencial na OMC pode ajudar.
- Etanol: é fato que a alíquota de importação do etanol americano do Brasil era muito mais elevada (18%) do que a cobrada nos EUA sobre o mesmo produto brasileiro que entra nos EUA. Curiosamente, o produto ficou fora do tarifaço, e até por isso há espaço para alguma negociação.
- Fiscalização anticorrupção: os EUA veem "falha do Brasil em fiscalizar medidas anticorrupção", ponto reforçado no pronunciamento de Trump na ONU. É interesse nacional apertar essa vigilância, ponto que pode ser reforçado pela rejeição da PEC da Blindagem.
- Proteção da propriedade intelectual: os americanos temem regras nacionais de proteção e fiscalização, que podem ser adequadas. Desde, claro, que não incluam o comércio da 25 de Março, o mesmo que existe na famosa Canal Street de Nova York.
- Desmatamento ilegal: a cobrança, em especial depois do discurso recheado de barbaridades climáticas de Trump na ONU, soa um tanto ridícula, mas interessa ao Brasil discutir o fim desse crime ambiental. Difícil será avaliar se Trump vai se interessar mesmo pelo assunto.





