
A resposta fácil para a pergunta do título é "sim, existe". É um risco discutido de forma crescente. Mas o que importa, nesse caso, é qual é a probabilidade dessa ameaça se concretizar, e principalmente, que efeito provocaria. São as respostas difíceis, que não podem ser dadas de forma curta e simplista.
Um dos gatilhos mais perceptíveis é o valor de mercado das empresas. A Nvidia, por exemplo, é "cotada" hoje em US$ 4,4 trilhões. É o maior entre todas de todos os segmentos: vale mais do que Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet ou Meta. E cá entre nós: você já usou algum produto da Nvidia? Se sim, faz parte de uma pequena elite. Se fosse um país, seria o quarto mais rico do mundo, quase empatado com a Alemanha (PIB de US$ 4,7 trilhões em 2024), por sua vez só atrás de Estados Unidos e China.
Até o cofundador e CEO da OpenAI, Sam Altman, surpreendeu ao admitir, dias atrás, que há negócios do segmento "meio inflados neste momento". Não é, portanto, conversa de quem está fora do jogo, com "inveja". Até porque, segundo relatório do MIT, o prestigiado Massachusetts Institute of Technology, 95% das empresas que investiram em IA ainda não obtiveram retorno – outro indício de bolha.
Alertas sobre a bolha da IA já foram feitos por Banco da Inglaterra, Fundo Monetário Internacional (FMI) e até de Jeff Bezos, fundador da Amazon. Também há pouco tempo, o pioneiro em IA Jerry Kaplan disse já ter vivido quatro bolhas e ter medo da quinta. Destacou que, agora, as quantias envolvidas são muito maiores do que as do estouro das pontocom – o primeiro relacionado a novas tecnologias na bolsa americana, no final dos anos 1990:
— Quando (a bolha) estourar, vai ser muito ruim, e não apenas para quem trabalha com IA. Vai arrastar o restante da economia junto .
O problema dos estouros de bolhas é que são difíceis de prever. A do mercado imobiliário, em 2008, teve poucos profetas, alguns mais teóricos, como o economista Nouriel Roubini, outros práticos, que aproveitaram a antevisão para ganhar dinheiro, como mostra o filme A Grande Aposta. A própria existência de bolha só se concretiza depois que explode.
Um novo episódio pode causar grandes perdas, como adverte Kaplan. Mas assim como o estouro não tirou do mapa todas pontocom, um reequilíbrio mais racional dos negócios de inteligência artificial não vai extinguir companhias com avanços mais tangíveis. O que corre mais risco é o que sobe só no hype, a euforia da segunda metade da terceira década do terceiro milênio. Neste momento, é bom ter perspectiva histórica.




