
Como a coluna relatou, nos últimos dias a prometida ajuda de US$ 20 bilhões dos Estados Unidos de Donald Trump à Argentina de Javier Milei vinha sendo considerada insuficiente. A promessa de apoio financeiro e o início de uma inusitada compra de pesos argentinos pelo Tesouro dos Estados Unidos haviam dado algum alívio ao estressado mercado portenho, mas a 10 dias das eleições parlamentares o efeito perde força.
Na quarta-feira (15), o secretário do Tesouro, Scott Bessent, anunciou que a ajuda pode duplicar: além do swap cambial (troca de moeda), haveria em estudo também um empréstimo de US$ 20 bilhões. Como o primeiro instrumento anunciado não envolve dinheiro novo, só uma troca de pesos por dólares, era um ponto fraco em um sistema tão desafiado.
É tudo tão fora do normal que no dia do anúncio de Bessent, o mercado de câmbio não se animou: tanto a cotação oficial (1.400) quanto a paralela (1.450) subiram, em vez de cair. A reação foi positiva nas ações de empresas e mista nos títulos argentinos negociados em dólar. Sem novos anúncios esperados para esta quinta-feira (16), o dólar oficial fechou com oscilação para cima (1.425 pesos) e o blue, paralelo mais usado, também escalou para 1.470 pesos.
Seja de US$ 20 bilhões ou do valor duplicado, a ajuda americana está vinculada ao resultado das eleições parlamentares do dia 26, como ficou claro ainda em reunião bilateral durante a Assembleia Geral da ONU, há quase um mês. Na visita de Milei à Casa Branca, Trump explicitou a exigência e a classificou de "ideológica".
Na volta à Argentina, Milei deu uma entrevista coletiva na qual rejeitou chamar a ajuda dos EUA de "resgate". Só há registro de operação semelhante em 1995, quando o governo de Bill Clinton fez um empréstimo de US$ 20 bilhões ao México. Mesmo sustentado que é uma vitória de seu governo, o presidente argentino se exasperou quando foi perguntado sobre a situação dos argentinos cuja renda não chega ao final do mês:
— O que quer, que emita (dinheiro, pela via do endividamento) como o kirchnerismo? Esse remédio é pior do que a doença. Emitindo não se resolve, como quer que eu resolva? Vamos, diga, como dou dinheiro às pessoas?
Um dos motivos pelos quais o economista Milei venceu a eleição foi seu discurso de que teria a fórmula para tirar a Argentina de suas crises recorrentes. E era fácil. O diálogo foi reproduzido pelo jornal La Nación, presente na coletiva.



