
Quando Donald Trump falou em "química" com Luiz Inácio Lula da Silva, "patriotas" que fazem uma espécie de antidiplomacia creditaram o aceno a uma "estratégia genial" que desembocaria na aprovação de uma "anistia geral e irrestrita".
Depois do telefonema entre os dois presidentes, quando o secretário de Estado, Marco Rubio, foi designado para encaminhar a negociação, novo palpite infeliz: o "profundo conhecedor da América Latina" não cairia "na conversa mole do Lula". Havia motivos para cautela – e segue havendo –, mas não era cuidado e, sim, intenção de sabotar.
Horas depois do encontro presencial entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na quinta-feira (16), surgiu um antídoto à concorrência desleal: uma nota conjunta entre os dois órgãos oficiais da diplomacia de Brasil e Estados Unidos. A segunda voz da dupla que desafina dos interesses nacionais foi obrigada a reconhecer que o encontro foi "cordial", mas proclamou: "não saíram com nada".
Segundo a nota (leia a íntegra no final deste texto), os negociadores envolvidos "concordaram em colaborar e conduzir discussões em várias frentes no futuro imediato, além de estabelecer uma rota de trabalho conjunto". Dado o estágio para onde os "patriotas" pretendiam levar a relação bilateral, não parece "nada".
Nem os maiores interessados nos resultados, os setores prejudicados pelo tarifaço estimulado pela antidiplomacia esperavam anúncios concretos nessa primeira fase da recomposição das relações.
Setores empresariais que sabem como se prepara uma reunião presidencial entendem essa primeira abordagem oficial do problema do tarifaço como um passo importante para levar a relação entre os dois países a um patamar mais racional. E que agora, Brasil e EUA estão "back in business", ou seja, retomando um diálogo, como avisou Trump, focado em "economia e comércio entre nossos dois países".
É melhor manter a cautela, afinal a racionalidade ainda está longe de dominar as decisões de Trump – basta ver as ameaças bélicas à Venezuela. Não importa o quanto o Brasil repita que é um dos três únicos países do G20 com os quais os EUA têm superávit, eventual alívio do tarifaço não virá de graça. Algo vai custar. É tarefa da diplomacia profissional do Brasil, que tem bons antecedentes, fazer com que seja o menor possível.
A íntegra da nota conjunta
Declaração Conjunta do Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, do Secretário de Estado, Marco Rubio, e do Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer
Hoje, o Secretário de Estado Marco Rubio e o Representante de Comércio dos Estados Unidos Jamieson Greer se reuniram com o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e mantiveram conversas muito positivas sobre comércio e questões bilaterais em andamento. O Secretário Rubio, o Embaixador Greer e o Ministro Mauro Vieira concordaram em colaborar e conduzir discussões em várias frentes no futuro imediato, além de estabelecer uma rota de trabalho conjunto. Ambas as partes também concordaram em trabalhar conjuntamente pela realização de reunião entre o Presidente Trump e o Presidente Lula na primeira oportunidade possível.
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Joint Statement by Minister of Foreign Affairs of Brazil Mauro Vieira, Secretary of State Marco Rubio, and United States Trade Representative Jamieson Greer
Today, Secretary of State Marco Rubio and United States Trade Representative Jamieson Greer met with the Minister of Foreign Affairs for Brazil Mauro Vieira and had very positive talks regarding trade and ongoing bilateral issues. Secretary Rubio, Ambassador Greer, and Minister of Foreign Affairs Vieira agreed to collaborate and conduct discussions on multiple fronts in the immediate future and establish a working path forward. Both sides also agreed to work together to schedule a meeting between President Trump and President Lula at the earliest possible occasion.
*Colaborou João Pedro Cecchini






