
O empresário Ricardo Geromel (sim, irmão do ex-jogador e ídolo do Grêmio Pedro Geromel) é cofundador da empresa FCGI, que ajuda a conectar empreendedores com China há mais de uma décadas, e autor dos livros O poder da China e Bi.lio.nár.ios. Esteve em Porto Alegre recentemente para participar de palestras no Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e na Semana Caldeira.
O tarifaço pode permitir que empresas redirecionem suas exportações?
Faço negócio com a China há cerca de 15 anos, e o interesse chinês no Brasil está na máxima histórica. É o nosso maior parceiro comercial desde 2009 e de cerca de 120 países. Agora, a China está percebendo que há oportunidade e vindo com os dois pés na porta, em vários segmentos. Antes, o apetite era muito relacionado a matérias-primas. Agora, não sei que carro você tem, mas garanto que você terá um carro chinês. São mais de cem montadoras na China e há diversas marcas vindo.
Quais são os segmentos em que há maior abertura agora?
Tecnologia, por exemplo. O primeiro unicórnio brasileiro, empresa privada sem abertura de capital que vale mais de US$ 1 bilhão, é a 99, que foi comprada pela chinesa Didi. Hoje, a 99 é uma empresa 100% chinesa. No Brasil, temos o iFood, que domina uma parte importante do mercado, e agora a 99 vai lançar a sua entrega de comida, mas a maior empresa do mundo no setor é a Meituan, chinesa que deve investir R$ 5 bilhões no Brasil. Ainda tem Shein e Temu, que fazem roupas por um preço muito baixo e estão incomodando outras varejistas de moda. Então, o setor de tecnologia é um que tem crescimento exponencial no volume de negócios entre Brasil e China.
Há setores menos conhecidos?
Sim, o saúde, por exemplo. Já vemos tecnologia avançada na China em máquinas para hospitais. E logo estaremos tomando remédios fabricados na China. A lucratividade das empresas no setor farmacêutico é bizarra. O medicamento de maior faturamento do mundo se chama Keytruda, para o câncer. Uma empresa chinesa estava vendendo um remédio parecido. A China era fábrica do mundo por ter mão de obra muito barata, e continua sendo por ter rede de suprimentos com tecnologia muito avançada.
Qual o gargalo na relação comercial entre Brasil e China?
O maior gargalo é a ignorância. Não aprendemos nada sobre China na escola. Entendemos e compramos o sonho americano. Todos nós ouvimos músicas em inglês, assistimos filmes americanos, o que impacta em quem nós somos. Assusta o quão ignorantes, ainda somos em relação à China, mesmo na elite empresarial.
Como você prevê a relação entre Brasil e China no futuro?
A China, com quase 20% da população do planeta e nem 7% da terra cultivada, precisa importar alimentos. A China também, diferentemente dos Estados Unidos, não exporta energia e precisa importar petróleo. Então, precisa continuar fazendo negócios.
*Colaborou Anderson Aires





