
Depois de mais um apagão no país que afetou ao menos 24 Estados, a explicação do ministro de Minas e Energia, Henrique Silveira, é de que sua origem foi "elétrica", não "energética". Para quem conhece o tema, faz sentido e é até um pouco tranquilizador – o "pouco" será explicado adiante. Para quem não, fica a dúvida: não é a mesma coisa? Pois então, parece, mas não é.
Ao dizer que a causa foi "elétrica" – supondo que, desta vez, o diagnóstico relativamente rápido seja exato –, o ministro quer passar a mensagem de que o problema não é de fundo, ou seja, resultado de disfunção grave no sistema ou de falta de suprimento compatível com a demanda. Esses dois seriam motivos "energéticos".
As palavras que quase todo brasileiro usa como sinônimos não são a mesma coisa do ponto de vista técnico. Um problema "elétrico" é específico e relativo ao sistema em si, não à carga que transporta (a energia propriamente dita). No caso, a causa teria sido um incêndio na subestação de Bateias, na região metropolitana de Curitiba (PR). É um equipamento importante por estar no caminho do maior centro de geração do país, a hidrelétrica de Itaipu. Um obstáculo "energético" teria sido relativo à quantidade de megawatts disponível para atender à demanda, sintoma de encrenca mais grave.
Essa é a tese. Há outra camada na leitura deste apagão e de vários outros que já marcaram a história do Sistema Interligado Nacional (SIN). Considerada uma obra-prima da engenharia elétrica em sua época, essa rede que conecta quase 100% dos brasileiros – há exceções na Região Norte – hoje inspira sugestão de aperfeiçoamento urgente.
Como o SIN é muito longo, embute fragilidades tanto sistêmicas, ou seja, decorrentes da própria estrutura, quanto tecnológicas, por não ter adotado as atualizações disponíveis. Quando ocorre um problema como o registrado no Paraná, em vez de isolar a falha, o sistema a replica em cadeia. Para manter seu equilíbrio, precisa desligar carga.
A adoção dos chamados "smart grids" (com fluxo em duas direções, para enviar e receber energia para a rede) até de sistemas de baterias que armazenaria a carga que precisaria ser desligada para não sobrecarregar o sistema estão entre as mudanças recomendas. No momento em que o apagão "elétrico" ocorreu, o sistema vive as dores antecipadas há um ano pelo especialista Nivalde de Castro à coluna, com desligamento de geração de energia limpa. O gatilho pode ser elétrico, mas a falta de atualização no planejamento é, definitivamente, energética.




