
Depois de dias tentando conter o desgaste de uma acusação de ligação com o narcotráfico, o deputado José Luis Espert renunciou à reeleição pelo partido do presidente Javier Milei no final de semana. A decisão foi tomada depois da revelação de um extrato do Bank of America (BofA) com um repasse de US$ 200 mil (R$ 1,06 milhões pelo câmbio atual) ao parlamentar do traficante Frederico "Fred" Machado.
É uma fragilidade que Milei terá de administrar a 20 dias da eleição decisiva para o futuro imediato da Argentina, porque o apoio financeiro prometido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está condicionado à vitória do atual presidente e seus aliados. No dia 26, a Argentina vai renovar metade dos deputados e um terço dos senadores. Espert é o "principal candidato" de Milei por liderar a lista da província de Buenos Aires. Na Argentina, candidatos ao Legislativo se aglutinam em listas impressas, chamadas de "boletas". O eleitor escolhe uma – opção muito baseada no líder – e a coloca na urna.
Essa combinação de incertezas leva mais pressão ao mercado cambial no país, que já vinha passando por sobressaltos. Há forte demanda por dólar, cuja cotação voltou ao patamar de 1,5 mil pesos. Essa disparada combina expectativa de mudança na política monetária depois das eleições e o mau desempenho das forças pró-governo nas pesquisas, que reforça dúvidas sobre a manutenção do programa econômico e do atual sistema de bandas cambiais.
Fred Machado está em prisão domiciliar em Viedma (Río Negro, província da Patagônia onde fica Bariloche) enquanto não é extraditado aos EUA. A Justiça confirmou que, em 2019, Espert usou ao menos 36 vezes aviões de empresas ligadas a Machado. O parlamentar admitiu, mas disse desconhecer a ligação de Machado com o tráfico. Sobre os US$ 200 mil, afirmou ser consultoria a uma empresa de mineração na Guatemala de Machado em 2020. A condenação por narcotráfico ocorreu em 2021.
Milei segue afirmando que as acusações contra Espert são obra dos kirchneristas (seguidores de Néstor Kirchner e sua mulher, Cristina Fernández de Kirchner). No domingo, logo após a renúncia, disse acreditar na "honorabilidade" do deputado. No entanto, seu chefe de gabinete, Guillermo Francos, disse que Espert "gerou suspeitas" com suas explicações sobre o vínculo com Machado.
O desgaste de Milei havia se acentuado com denúncias de corrupção envolvendo sua irmã, Karina, que não é apenas seu braço-direito no governo como foi a responsável pela montagem das listas para a eleição. Além disso, a Argentina está horrorizada com o alcance e as práticas do tráfico depois que três jovens foram torturadas e mortas. A inquietação com a violência foi um dos elementos fundamentais para a eleição de Milei.
Espert é um economista ultraliberal, como Milei. Em 2019, concorreu à presidência da República na Argentina pela chamada Frente Despertar e fez 1,47% dos votos. Em 2020, aliou-se a Milei na disputa das eleições legislativas de 2021 e, mais tarde, a sua campanha vitoriosa para a Casa Rosada.




