
Na entrevista coletiva que detalhou a megaoperação contra o PPC nesta quinta-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez uma revelação que ajudou a entender a abrangência das investigações e do alcance dos resultados. Relatou que, em 2023, foi criada uma equipe na Receita Federal para investigar fraude estruturada ao Fisco. A ideia era estudar e identificar mecanismos financeiros sofisticados, como os agora usados pela facção criminosa.
Segundo o ministro, foi um dos instrumentos que permitiu detectar o complexo esquema financeiro usado tanto para organizar desde o controle de empresas como as produtoras de etanol até a ocultação e gestão de patrimônio obtido de forma criminosa nos fundos protegidos por várias camadas de "investidores".
— É a maneira correta de usar a integração do Estado (no sentido de poder público) para chegar ao alto escalão do crime e secar a fonte de recursos. Aí efetivamente estrangula a atividade criminosa — afirmou Haddad.
Demorou, mas fez efeito: em vez de combater o crime pela ponta do varejo, do pequeno traficante ou no golpista de ocasião, desta vez a operação mira no atacado, ou seja, nos donos do dinheiro . Guarda semelhança, guardados os cenários históricos muito diferentes, com a montagem do time conhecido como os "intocáveis", comandado por Elliot Ness, agente do Departamento do Tesouro (nos EUA, o equivalente ao Ministério da Fazenda no Brasil).
O estrago que homens armados não conseguiram fazer na venda ilegal de bebidas que alimentava crimes em série na Chicago dos anos 1930 coube a especialistas em números e planilhas. A equipe desvendou o esquema e condenou Al Capone por "simples" (perto dos assassinatos ordenados pelo mafioso) evasão de imposto de renda.
— Se prende integrantes da quadrilha, o dinheiro continua à disposição do crime. Às vezes os presos são personagens menos relevantes, são substituídos rapidamente. Agora, a gente conseguiu chegar à cobertura, ao andar de cima do esquema. Para chegar ao patrimônio dos criminosos, precisa da inteligência dos auditores fiscais para abrir os fundos e descobrir onde o dinheiro está chegando — afirmou Haddad.
Desta vez, ponto para Eliot Ness. Mas esse tipo de operação não pode ser um ponto fora da curva, precisa ser recorrente para asfixiar de fato o crime cada vez mais organizado. E digitalizado.



