
Se na revenda de combustíveis a infiltração do crime organizado já era denunciada por integrantes do segmento, a presença do PCC no coração da Faria Lima, símbolo do mercado financeiro no Brasil, era menos óbvia. E chegou não só a operadoras digitais (fintechs) pouco conhecidas, mas a grandes empresas, com ações negociadas na bolsa de valores, supostamente entre as mais vigiadas do país.
Um dos 350 alvos de busca e apreensão é a Reag Investimentos, uma das maiores gestoras independentes (sem ligação com bancos) no país, que atua em gestão de investimentos e de patrimônio. Conforme a Polícia Federal (PF), cerca de 40 fundos estão sob suspeita de utilização pelo PCC. É um alerta para o elevado grau de profissionalização do crime organizado. Em um país em que a digitalização cresceu, os delinquentes acompanharam.
Até agora, a maior suspeita sobre a Reag era sua forma não ortodoxa de ter ações negociadas na bolsa, alvo de investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, conhecida como "xerife do mercado". Em janeiro deste ano, havia comprado a GetNinjas, que já tinha credenciais para operar até no chamado Novo Mercado.
Em tese, esse nicho exige controles mais rigorosos do que a média das companhias de capital aberto (como são chamadas as empresas que negociam na bolsa). Se as suspeitas da PF se comprovarem, os motivos da infiltração estão claros. Ter uma operação com essa chancela é importante para quem precisa de credibilidade para lavar grandes quantias de dinheiro.
E a forma de desembarque em um setor considerado elitizado no Brasil foi semelhante à forma de chegada à produção e revenda de combustíveis: a compra de participações em empresas estabelecidas do segmento. Os fundos geridos por esse tipo de empresa permitem que a origem dos recursos seja camuflada a ponto de tornar quase impossível o rastreamento. Ao que tudo indica, quase.
Conforme a Polícia Federal, cerca de mil postos de combustíveis vinculados ao grupo movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. O "banco paralelo da organização" (expressão da PF), movimentou R$ 46 bilhões não rastreáveis no período, com ao menos 40 fundos usados como estruturas de ocultação de patrimônio.
Na entrevista coletiva que detalhou a megaoperação que teve ainda participação de Receita Federal e Ministério Público Federal nos Estados – especialmente São Paulo e Paraná –, a subsecretária de Fiscalização da Receita, Andréa Chaves, confirmou que os fundos de investimento foram usados pelo crime organizado para ocultação e blindagem de patrimônio obtido de forma ilegal. Afirmou, ainda, que os fundos usados para essa finalidade estavam "cientes" da utilização e "contribuíram para os crimes" ao não cumprir obrigações acessórias com o Fisco.
A Reag publicou um fato relevante em que afirmar estar "colaborando integralmente com as autoridades competentes" (veja íntegra abaixo).
Fato relevante
A REAG INVESTIMENTOS S.A. (“Reag Investimentos”) e a CIABRASF – CIA. BRASILEIRA DE SERVIÇOS FINANCEIROS S.A. (“CIABRASF”, em conjunto com a Reag Investimentos, as “Companhias”), em cumprimento ao disposto no artigo 157, §4º, da Lei n.º 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conforme alterada, e na Resolução CVM nº 44/2021, informam aos seus acionistas e ao mercado em geral que, na data de hoje, estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão em suas respectivas sedes no âmbito da Operação Carbono Oculto.
Trata-se de procedimento investigativo em curso. As Companhias esclarecem que estão colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados, e permanecerão à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários.
As Companhias manterão seus acionistas e o mercado informados sobre o desenvolvimento dos assuntos objeto deste Fato Relevante.
São Paulo, 28 de agosto de 2025




