
O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Não se sabe exatamente para onde as negociações vão caminhar, mas a tentativa de acordo para acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia já mexe com o preço do petróleo. Ainda que a cotação do barril do tipo brent, que serve de referência mundial, tenha subido 1,6%, para US$ 66,81, nesta quarta-feira (20), o valor segue próximo à mínima em dois meses, de US$ 65,36.
Como a Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, um eventual fim da guerra poderia resultar na retirada de sanções ocidentais impostas contra a commodity russa. O movimento ajudaria a aumentar a oferta no mercado e puxar os preços para baixo. Pelo lado da demanda, a menor necessidade de combustível para abastecimento de veículos e armamentos também pode ajudar a cotação a cair.
Já em caso de as negociações fracassarem e a guerra continuar, os preços devem seguir na direção contrária, avalia Giovani Loss, sócio da área de petróleo e gás do escritório Mattos Filho.
— Os preços estão caindo, não exponencialmente, mas estão. Se a guerra continuar, obviamente a tendência é de alta, mas não deve ser brusca, porque a guerra já está precificada.
O que também preocupa é se Donald Trump efetivar sua promessa de tarifa secundária de 25% a "compradores de energia" da Rússia. Por enquanto, só a Índia deve ser atingida pela nova taxa, mas há risco de extensão a outros países, ainda mais que a decisão envolve o errático ocupante da Casa Branca.
O cenário significaria aumento de sanções ao petróleo russo, diminuindo a oferta disponível e aumentando os preços, por consequência. Trump diz estar organizando um encontro entre o líder russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, o que pode dar novas direções ao mercado de petróleo.
A dependência da Rússia
É russo 39,1% do óleo diesel importado por empresas nacionais de janeiro a junho deste ano. Cerca de um terço do consumo interno desse combustível depende de importação, porque não há capacidade interna de suprir toda a demanda. Investimentos para alcançar a autossuficiência não só são elevados, como pouco produtivos, o que inibe essa estratégia.
Vêm da Rússia cerca de 26% dos fertilizantes que o Brasil compra no Exterior. Desde a invasão da Ucrânia, o país discute como reduzir a forte dependência nessa área, porque 90% do consumo interno é suprido por importações, cerca de um terço das quais tem origem russa.
*Colaborou João Pedro Cecchini


