
O diagnóstico não é novo, portanto nada original, mas ainda assim é preciso que seja registrado. Conforme a Receita Federal, a campanha de mentiras orquestrada no início deste ano em torno de uma suposta "taxação do Pix" acabou ajudando o PCC a lavar dinheiro do crime.
Nem deveria precisar lembrar, dado o alcance da campanha, mas sempre é bom: na virada do ano, quando entraria em vigor uma medida anunciada em setembro do ano anterior, uma ação de fake news tomou conta das redes sociais disseminando a desinformação de que o Pix passaria a ser cobrado.
Não havia uma só letra de verdade. Era um aperto na vigilância aos bancos digitais – também chamados de fintechs, os mesmos que foram usados pelo crime organizado no esquema de lavagem de dinheiro que chegou à Faria Lima. A exigência era, a partir de 1º de janeiro, que todas as empresas financeiras remetessem à Receita, a cada semestre, informações sobre quem movimentou via Pix mais de R$ 5 mil, no caso de pessoas, e de R$ 15 mil, no caso de empresas.
Na época, a coluna já apontava a fonte do maior interesse em minar uma nova medida de fiscalização: a economia subterrânea, que inclui atividade criminosa. Não, a coluna não tinha ideia da abrangência da infiltração do PCC então, mas era possível perceber que não se tratava de algo "espontâneo". A famosa "audiência" de 280 milhões para o vídeo de um parlamentar reforçava essa percepção.
Agora, ficou claro: a campanha ajudou o PCC a lavar dinheiro com mais facilidade por oito meses adicionais. O governo Lula não é isento de responsabilidade: em vez de encarar a mentira e desmascará-la, recuou, pensando em popularidade, não em eficácia no combate ao crime.
Como anunciou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda na quinta-feira (28), a regra prevista para 1º de janeiro passa a valer a partir desta sexta-feira (29). Agora, quem pensar em fabricar fake news a partir do aperto da fiscalização tem um grande desincentivo: pode ser suspeito de dar mais uma mãozinha ao crime organizado.

