
A Randoncorp, indústria gaúcha com origem em Caxias do Sul e presença internacional crescente, reforçou nesta quarta-feira (11) sua "Ambição ESG" mesmo em uma etapa em que o conceito é desafiado pela tática de Donald Trump e mesmo no universo corporativo. Nesta entrevista à coluna concedida antes do evento realizado no Instituto Caldeira, seu presidente, Daniel Randon, reafirma os compromissos sociais e ambientais em um cenário que combina a consciência de que "uma hora, a conta vem", demanda de clientes e reforço dos resultados financeiros. Daniel afirma que o tarifaço torna o mercado mais volátil, mas afirma que o cenário deve até antecipar aportes nas unidades da empresa nos EUA.
Como a Randoncorp sustenta seu projeto ESG ante o desafio à agenda?
Sempre trabalhamos no tripé de sustentabilidade. Buscamos resultado para poder investir e continuar gerando emprego, impostos e riqueza. O social sempre foi um trabalho importante. O Instituto Elisabetta Randon tem 20 anos, a Fundação Randon, mais de 40. Vemos o ESG como questão de governança, não é da noite para o dia, é um trabalho de longo prazo. Precisamos nos preocupar com governança e os impactos social e ambiental, até porque não tem almoço grátis. Uma hora, a conta vem. Atuamos no setor automotivo, que tem muitas oportunidades, mas também é muito visado pela emissões de gases de efeito estufa. Nosso papel é continuar investindo em tecnologias como o eixo e-Sys, que economiza até 25% de combustível.
Há outras iniciativas?
Temos a Composs, que produz a partir de compósitos mais leves e podem substituir aço e outros componentes mais pesados, aumentando a eficiência. E investimos na Caldeira Verde, com biomassa, que traz energia com menor impacto. Como a empresa tem capital aberto (ações negociadas em bolsa), temos obrigação de medir o impacto no ambiente. Há grandes empresas que buscam descarbonização e cobram soluções de seus fornecedores logísticos. Instituições financeiras, como o IFC, dão desconto no custo financeiro para quem atinge metas de redução do efeito estufa até 2030. Randoncorp e Frasle Mobility se financiaram com linha de nove anos.
Nos últimos dois anos, ficamos entre as três empresas privadas com maior número de patentes requeridas no INPI. Estamos com Petrobras e Stelantis.
Quais são os resultados?
Nos últimos dois anos, ficamos entre as três empresas privadas com maior número de patentes requeridas no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Estamos com Petrobras e Stelantis entre as três maiores. São inovações importantes, que ajudam a trazer desde materiais mais sustentáveis, produtos mais seguros e com impacto ambiental menor e também retorno econômico para a poder continuar investindo.
A Randoncorp passa por um forte processo de internacionalização, enfrenta problemas com o tarifaço?
Vemos maior volatilidade do mercado, mas também nos EUA uma busca de alternativas de fornecimento além da China. Há tem alguns incrementos de custos em produtos específicos. Nos EUA, como em todo o mercado, há repasse de preço pela demanda, mas também vemos como oportunidades. Saímos de uma receita no mercado externo nos últimos anos de cerca de 15% para 25% e devemos chegar a 30%. Com a aquisição principalmente da DaComsa, no México, que tem 95% de sua receita dentro do país e na América, só 5% nos EUA.
Temos fábricas de semi-reboques em New Jersey, de eixos em Louisville, no Kentucky, e também com uma fábrica de material de fricção desde 2008 no Alabama.
Como a empresa está nos EUA?
Temos fábricas de semi-reboques em New Jersey, de eixos em Louisville, no Kentucky, e também com uma fábrica de material de fricção desde 2008 no Alabama. Vemos oportunidade de antecipar investimentos previstos no futuro nas unidades nos EUA.
O abastecimento dessa unidades está normal ou há alguma dificuldade com as restrições à China?
Está tudo normal hoje. O mercado está mais volátil. Acredito que é uma questão de tempo para buscar uma equalização para o tarifaço. É como o câmbio, o problema maior nem é o nível final da tarifa, é a volatilidade. A empresa que adquirimos lá, tinha fornecedor chinês, mas já trabalhamos no desenvolvimento de fornecedores do Brasil. Desde a pandemia, está mais claro que não se pode depender de um único país, um único fornecedor.