
Ele já ameaçou matar (kill!, escreveu entre parênteses e com ponto de exclamação, para não deixar dúvida) o líder de um país que, por mais ameaçador que pareça, tem 90 milhões de habitantes merecedores de respeito. Diante do estupor do mundo, que se pergunta se a maior potência militar do planeta vai entrar em guerra, liderada pelo candidato que prometeu não se envolver em conflitos em países "que nem se sabe onde ficam", disse:
— I may do it, I may not do it (Posso fazer, posso não fazer).
A resposta infantil (assista aqui porque, sim, é difícil de acreditar) como a do valentão que ameaça alguém mais fraco (sempre), é do presidente dos Estados Unidos, a pessoa que pode acionar alguns botões e disparar o maior arsenal nuclear do planeta. Donald Trump costumava chamar os conflitos no Oriente Médio de "estúpida guerra sem fim".
Agora, brinca sob o risco de que a humanidade sobreviva por 72 minutos – menos do que uma partida de futebol – se uma única bomba atômica lançada levar ao acionamento das outras 9.999 (estimativa do total disponível no planeta). A projeção da "resiliência" da espécie está no livro Guerra Nuclear: Um cenário, da jornalista americana Annie Jacobsen.
Sim, é só "um cenário", mas ajuda a refrescar a memória sobre um risco que havia amenizado nos últimos anos pelos esforços racionais de desarmamento nuclear. Conforme The Wall Street Journal – jornal especializado em finanças –, Donald Trump teria dito a assessores na terça-feira (17), depois de sair às pressas da reunião do G20, que havia aprovado planos de ataque ao Irã, mas aguardaria um sinal do país dos aiatolás de desistência de seu programa nuclear. É bom lembrar que a publicação pertence a Rupert Murdoch, que apoiou o presidente americano.
Para a AFP, agência de notícias francesa que é referência na área, um funcionário da Casa Branca afirmou que "todas as opções estão sobre a mesa". Essa perigosa proximidade de uma ação irracional já provoca fissuras na aliança que levou Trump ao poder. Os militantes-raiz do make America great again (Maga) são os mais indignados com a disposição de seu líder de levar os EUA outra vez a uma guerra eterna.
— Essa não é uma guerra nossa. Ainda se fosse, o Congresso deve decidir nesses assuntos de acordo com a nossa Constituição — afirmou o deputado republicado do Kentucky Thomas Massie.
Não foi suficiente bagunçar o comércio global e, nessa esteira, abalar o conceito de que dólar e títulos do Tesouro americano são "portos seguros". O grande argumento do ataque de Israel ao Irã é de que não se pode deixar armas nucleares na mão de vilões. Agora, Trump flerta via mensagens em sua rede social e afirmando para qualquer câmera que esteja gravando, com a ameaça de que "pode ou não" reservar só mais 72 minutos à humanidade.
Atualização: na tarde desta quinta-feira (19), a Casa Branca informou que Trump tomará uma decisão sobre o envolvimento conflito entre Israel e Irã nas próximas duas semanas. Conforme a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, Trump enviou uma mensagem à imprensa que diz: "Com base no fato de que há uma chance substancial de negociações que podem ou não ocorrer com o Irã em um futuro próximo, tomarei minha decisão de ir em frente ou não nas próximas duas semanas."