
Neste 10 de junho, a Lojas Renner chega aos 60 anos. A rede que nasceu em 1965 com seis lojas no RS tem hoje cerca de 680 em todo o país, além de pontos de venda no Uruguai e na Argentina. Às vésperas do aniversário, decidiu separar sua vice-presidência de operações em duas: uma focada só na Renner e outra para as demais unidades de negócios – Youcom, Camicado, Ashua e Repassa. Nesta entrevista, o CEO da empresa, Fabio Faccio, afirma que um dos objetivos é dar espaço para novos negócios para os próximos 60 anos. E avisa que o futuro da empresa é "sustentável e inovador".
A mudança na gestão às vésperas do aniversário é passagem para futuro?
Nesses 60 anos, a empresa passou por vários ciclos, várias gerações. Estamos em um ciclo importante, com crescimento, melhoria, mais encantamento, mais crescimento, mais rentabilidade. Para crescer da melhor forma possível, reorganizamos para que seja mais ágil. Sem a necessidade de atender à Renner, que terá vice-presidência própria, a unidade de negócios ganha mais autonomia e agilidade.
Significa que poderá aumentar a abrangência?
No futuro, podemos ter mais uma ou outra unidade de negócio. Não agora, mais à frente.
Se daqui a alguns anos, decidirmos acrescentar outros negócios, não haverá necessidade de organizar tudo de novo.
Existe algo no radar?
Sinceramente, não. Agora estamos buscando só agilidade e eficiência maiores. Se daqui a alguns anos, decidirmos acrescentar outros negócios, não haverá necessidade de organizar tudo de novo.
Como a Renner sustenta seu compromisso com a sustentabilidade em um momento em que essa posição é questionada?
Vivemos em um mundo em que existe uma polarização não só nesse tema, em outros. Mas não é uma escolha ter responsabilidade social e ambiental ou financeira. Tem de ser tudo. Queremos ter moda responsável e produtos cada vez melhores. Com melhor design, mais conforto e menos impacto no ambiente, trabalhando em geração de renda e inclusão social e trabalhando por um resultado financeiro maior. Um crescimento feito com responsabilidade, feito de forma sustentável, é importante para a perenidade do negócio. E todas as medidas de sustentabilidade ambiental e social melhoram nosso desempenho financeiro. No ciclo anterior, havíamos no comprometido a ter 80% da nossa energia obtida de fonte renovável. Chegamos a 100% em 2021, com economia de custos. Nosso modelo de loja circular já pensa no reuso dos materiais e, se algum dia houve descarte, que possa ser reciclado. Também proporciona economia. Já temos 80% dos produtos com alguma característica mais importante para o ambiente. Queremos chegar a 100%. Trabalhamos no desenvolvimento de novas matérias-primas, na otimização dos produtos, na redução dos desperdícios. É bom para planeta e para o cliente. O trabalho bem feito engloba sustentabilidade ambiental, social e financeira.
Quando busca em países distantes, mesmo com custo menor, aumenta o risco de produzir coisas que não são necessárias.
Uma das características da Renner é o alto percentual de produto brasileiro vendido, em quanto está?
Muda ao longo de cada ciclo, agora cerca de 65% dos produtos que vendemos são nacionais. Temos os melhores fornecedores, as melhores fábricas trabalhando conosco, uns há 25 anos, outros há 35. São parcerias importantes, eles nos ajudam no nosso crescimento e nós os ajudamos a crescer. A indústria têxtil nacional é uma das melhores do mundo.
Como consegue competir com importados produzidos a baixo custo?
Na moda, há um ponto importante, que é o ciclo. E produzir o que realmente a cliente quer, o que está precisando. Quando busca em países distantes, mesmo com custo menor, aumenta o risco de produzir coisas que não são necessárias. Aí o preço, que pode ter sido menor, acaba tendo sobra de estoque, que é custo também, porque consome margem. Precisa fazer muita remarcação (liquidação). Produzir só o que é necessário evita desperdício e gera mais valor na cadeia.
O terremoto de tarifas afeta a Renner?
No momento, uma parte dos produtos importados tiveram redução de custo. Não tem tido impacto relevante para o negócio. Favoreceu por um espaço de tempo, mas para a sociedade e o mundo, é muito ruim viver essa instabilidade, sem saber o que vai acontecer. Gera falta de confiança e muitos setores aguardam para ver o que vai acontecer, o que complica a economia mundial.
Nos próximos 60 anos, o cliente da Renner vai poder usar uma roupa feita por uma impressora 3D?
Nossos times estão sempre de olho na inovação, mantemos proximidade com startups. Mas o objetivo é melhorar nosso produto e nosso serviço para o cliente, não é usar a tecnologia por tecnologia.