
Não foi uma surpresa total, ainda mais para um horizonte mais denso que a Muralha da China. Mas a maioria dos analistas esperava para esta quarta-feira (18) o fim do ciclo de alta de juro... que não houve. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar o juro mais 0,25 ponto percentual, para 15%, invocando, inclusive "cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica".
Nem precisaria de tradução, a essa altura, mas às vezes é preciso explicitar o óbvio: o Copom teme o impacto econômico do conflito entre Israel e Irã. Nesse ponto, aliás, foi mais claro do que o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos), que nem mencionou o possível envolvimento das forças armadas americanas no enfrentamento no Oriente Médio.
Mas se deu má notícia, o Copom também trouxe algum alívio:
"Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta".
Como em coponês, um dialeto do banco-centralês, a escolha de palavra é essencial, também é importante observar que o termo empregado não é "fim" do ciclo de alta, mas "interrupção". Faz diferença: se o Copom tivesse segurança de que será possível segurar a taxa onde está já a partir da próxima reunião, em 30 de julho, poderia usar "fim". Ao optar por "interrupção", aplica a si mesmo o conceito de cautela.
Avisa que tem a intenção de parar "em se confirmando o cenário esperado", ou seja, não descarta surpresas à frente. E reforça que seu mandato principal é "a convergência da inflação à meta".
E enquanto o debate sobre o ajuste das contas públicas ganha espaço, o Copom reforçou que "segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros". E reforçou que "para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado".