
É sob um horizonte totalmente fechado que o Comitê de Política Monetária (Copom) encerra na quarta-feira (18) a reunião iniciada nesta terça-feira (17) para definir o juro básico do país. No famoso "balanço de riscos" que mapeia as decisões do Banco Central (BC), há nada menos do que uma guerra na qual a maior potência militar do planeta já está engajada, ao menos verbalmente.
Se na véspera analistas de guerra e de negócios apostavam em cessar-fogo, o que desarmou cotações do petróleo e do dólar, nesta terça o cenário mudou. O petróleo voltou a subir pela manhã e a disparar à tarde, com alta de 4,2%, para US$ 76,29. O dólar passou o dia oscilando perto de zero e fechou com variação de 0,2% para cima, insuficiente para retomar o patamar de R$ 5,50 (R$ 5,497).
A aposta dominante é de que o Copom faça uma parada para avaliação, mas não haverá grande surpresa se anunciar nova alta de 0,25 ponto percentual, tamanha a incerteza do cenário. E mesmo se decidir pelo "viés de parada", não significará, necessariamente, que o ciclo de alta terá terminado. Ninguém, em sã consciência, é capaz de ver o que ocorrerá amanhã, quanto mais no "horizonte relevante" que o Copom mira com suas decisões.
O que tornou tudo mais difícil são declarações do presidente dos Estados Unidos explicitando que seu país é um ator no conflito entre Israel e Irã. Não que houvesse dúvida sobre quem os EUA apoiavam, mas havia tentativa de evitar que a maior potência militar do planeta tivesse envolvimento direto em uma nova guerra.
Contrariando tudo o havia afirmado até agora, Donald Trump tem dado sucessivos ultimatos ao governo iraniano, inclusive exigindo "rendição incondicional". O atual ocupante da Casa Branca também normalizou o assassinato político ao escrever, como se fosse benevolente:
— Sabemos exatamente onde o chamado "Líder Supremo" está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá. Não vamos tirá-lo de lá (matar!), pelo menos não por enquanto.
Atenção para a conjugação verbal: "vamos" significa que está participando da decisão. Ele e Israel. Ou ele e Benjamin Netanyahu. A agência de notícias Reuters relatou que as Forças Armadas americanas enviaram nesta terça mais caças e porta-aviões para o Oriente Médio, reforçando sua capacidade militar na região.
O quanto Trump deve ser levado a sério é um absoluto mistério. Na mesma publicação, usa o verbo "matar" (kill) com direito a ponto de exclamação e encerra como se escrevesse um ofício burocrático: "Obrigada por sua atenção a esse assunto". Não há bússola que oriente.