
Não, a chuvarada que volta a provocar alagamentos e deslocar e até desabrigar famílias no Estado não será a repetição do dilúvio do ano passado, garantem os especialistas. Menos mal. Mas não é preciso uma tragédia ambiental nunca antes vista para causar problemas para os gaúchos.
Aprendemos pouco desde maio de 2024. Outra vez, faltaram alertas suficientemente fortes para retirar pessoas de áreas de risco, faltaram providências para evitar que áreas vulneráveis voltassem a alagar, faltou infraestrutura adequada para abrigar os desalojados.
Apesar da visibilidade dada à necessidade de transformar territórios vulneráveis em "cidades-esponja", seguimos impermeabilizando o solo, acossando os rios, cortando árvores e suas raízes sugadoras do excesso de água. É verdade que não se constrói resiliência absoluta em um ano. Mas era preciso ter feito mais e com maior velocidade.
Como disse há poucas semanas à coluna Kayo Arvut, fundador e CEO da Arvut, empresa de consultoria ambiental, catástrofes como a vivida pelo Rio Grande do Sul há um ano costumam acelerar os movimentos de proteção, mas os resultados exigem tempo para aparecer. Ao avaliar o estágio em que está o Estado depois de maio de 2024, diagnosticou:
— Quando há terremoto, os japoneses sabem o que fazer. No Brasil, quando tiver outra enchente, não. Temos de entender que é a realidade que vamos viver, principalmente no RS que deve ficar com o clima mais extremo.
Sem dar maior rapidez às ações de prevenção e adaptação às tempestades – que serão mais intensas e frequentes, advertem há mais de uma década os climatologistas – estaremos condenados a um eterno retorno à situação de desamparo, como ocorre agora com os moradores de Canoas, de Eldorado do Sul, do Vale do Taquari.