
No quarto dia do conflito provocado pelo ataque de Israel ao Ira, o barril do petróleo cede discretamente. Nesta manhã de segunda-feira (16), o contrato para entrega em agosto recua 1,1%, para US$ 73,40. Entre a ameaça de Donald Trump de colocar os Estados Unidos na guerra e a informação de que teria vetado a intenção de Israel de assassinar o líder supremo do Irá, o aiatolá Ali Khamenei, o mercado tenta jogar com a racionalidade de atual ocupante da Casa Branca. Como sempre ocorre no mercado, é uma aposta de risco.
Caso houvesse atentado contra Khamenei, implodiria uma das promessas de campanha de Trump, que chegou a se comprometer com o fim "imediato" da guerra entre Rússia e Ucrânia e a entre Israel e o Hamas. Não só nada disso ocorreu como houve o novo ataque de Israel, com apoio dos EUA ao menos parcial. Mas não é a quebra da palavra que Trump treme, obviamente. Seu maior medo, nesse momento, é a chegada do verão.
É que nos EUA, o período também é conhecido como "drive season", ou seja, a "estação de dirigir". É quando milhões de americanos pegam seus carros e percorrem o país nas férias de verão. É preciso lembrar que, nos EUA, qualquer aumento no petróleo é repassado de forma imediata aos preços dos combustíveis. Já sob risco de aumento da inflação pelo tarifaço, o país agora vê a alta ocorrer de fato por outro tipo de impacto.
— Os mercados de petróleo estão entrando em um período de pico de demanda nos EUA e buscarão sinais de estabilização, em vez de uma nova escalada. Por enquanto, o conflito parece estar contido. Há também indícios de que o Irã pode estar se aproximando de um acordo. Vemos os preços do petróleo limitados abaixo de US$ 80 por barril — avalia Mukesh Sahdev, líder global do mercado de petróleo da consultoria Rystad Energy.
Um dos motivos que provocou a disparada do preço, na sexta-feira (13), foi o temor de que, sob ataque, o Irã pudesse fechar o tráfego no Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do volume total de petróleo que circula no mundo.
— O potencial fechamento do Estreito de Ormuz embute o risco de levar os mercados de petróleo a forte escassez de oferta, sustentando preços e aumentando a tensão. Dado o seu interesse em manter os preços próximos de US$ 50, os EUA poderiam desempenhar papel estabilizador — reforça Janiv Shah, vice-presidente de mercado de petróleo da Rystad.
Agora, Trump e Israel terão de tomar decisões difíceis: embora tudo indique que o objetivo do ataque fosse derrubar o atual regime no poder no Irã, não há sinais de que isso pode ocorrer a curto prazo. Conforme o historiador e assessor do Instituto Brasil-Israel João Koatz Miragaya, Israel não tem armamento para destruir o arsenal nuclear do Irã. Caso o conflito se encerre antes, fracassaria. Caso se estenda, pode custar a perda de poder em outras latitudes.