
A perda da última nota máxima da dívida dos Estados Unidos abre um capítulo novo na administração Donald Trump. A decisão tomada na sexta-feira (16) à noite pela agência de classificação de risco Moody's, de reduzir a avaliação da chamada "dívida soberana" americana de Aaa para Aa1 testa seus efeitos no mercado nesta segunda-feira (19).
Com a medida, os EUA perderam a última nota máxima de investimento, o chamado "triplo A", das três maiores agências de classificação de risco, porque S&P (em agosto de 2011) e Fitch (agosto de 2023) já haviam retirado esse conceito há mais tempo. No Brasil, o dólar até ensaiou abertura em baixa, mas virou para alta, ainda que de forma moderada (0,2%) antes da primeira hora de negociações. Afinal, no Brasil será uma semana decisiva também sobre equilíbrio fiscal. Nos EUA, os futuros das bolsas caem, com a maior baixa (1,46%) na de tecnologia, a Nasdaq.
Como todas as decisões de impacto, foi anunciada quando poucos mercados financeiros ainda estavam abertos. Mesmo assim, houve salto no rendimento de longo prazo dos Treasuries – os principais títulos da dívida americana, que chegaram a enfrentar sinal de travamento no auge do manicômio tarifário de Trump. Na prática, isso significa que, como vários países emergentes – Brasil incluído – o mercado vai cobrar mais para rolar a dívida dos EUA por ter menos confiança na capacidade de honrá-la.
Ao justificar a decisão, a Moody's afirmou que "ao longo de mais de uma década, a dívida federal dos EUA cresceu acentuadamente devido a déficits fiscais persistentes". A agência ponderou que, sem ajustes substanciais em tributação (para cima) e nos gastos (para baixo), a expectativa é de que a flexibilidade orçamentária permaneça limitada, com gastos obrigatórios representando cerca de 78% de todo o orçamento do país.
O rebaixamento acrescenta nova camada de incerteza no mercado financeiro e à gestão de Trump. Embora o enfraquecimento do dólar e até uma eventual renegociação dos Treasuries faça parte das ambições da ala mais radical que agora ocupa a Casa Branca, foi a influência dessa turma que fez o planeta projetar o território desconhecido das operações financeiras sem portos seguros.
Agora, o mercado não vê mais nas tarifas uma possibilidade de arrecadação excepcional. O corte de gastos que se projetava com as demissões indiscriminadas de Elon Musk à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, o nome que era uma piada e prenunciou uma de extremo mau gosto) também não se confirmou. É um mundo desconhecido o que se desenrola à nossa frente.