
Depois do recuo da alta noite de quinta-feira (22) e das explicações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na manhã desta sexta (23), ficou claro que a equipe econômica tentou afastar um fantasma, mas o ruído com o aumento do IOF elevou a desconfiança do mercado em relação ao governo.
Conforme Haddad, a correção representa redução de cerca de 10% na receita prevista com a alta do IOF, ou seja, de R$ 2 bilhões neste ano e R$ 4 bilhões em 2026. Também afirmou que a equipe econômica tem uma semana para publicar os decretos de redução de custos e pode recuperar essa quantia com ajustes.
O dólar abriu em alta de 1,17%, minutos atrás, para R$ 5,726, também pressionado por nova ameaça de tarifa de 50% de Donald Trump, agora contra a União Europeia. Ontem, logo depois do anúncio dos cortes e antes da confirmação do IOF, havia caído a R$ 5,606. Meia hora depois, porém, havia moderado a alta para 0,4%.
— Recebemos subsídios de pessoas que operam nos mercados de que parte da medida poderia acarretar problema e passar uma mensagem não desejada — afirmou Haddad há pouco.
A "mensagem não desejada" que circulava desde antes do anúncio oficial da elevação do IOF era a de que o governo miraria um controle de capitais, ou seja, de mecanismos para regular a entrada e saída de dólares. Havia sido especulado quando o dólar encostou em R$ 6,30, mas não faria sentido agora que a mão do fluxo se inverteu, e o Brasil tem recebido mais aplicações financeiras dada a incerteza em relação ao porto seguro dos EUA.
Conforme um analista que atua no mercado, recuos sempre representam "trincas no cristal da credibilidade". Além do ruído com o mundo financeiro, o anúncio do IOF foi cercado de bate-cabeça interno no governo, entre a Fazenda e os ministérios palacianos, entre a Fazenda e o Banco Central e mesmo interno no ministério comandado por Haddad.