Os mais recentes desdobramentos das decisões de Donald Trump alteraram a composição de forças dentro da Casa Branca, avalia Lívio Ribeiro, sócio da BRCG Consultoria e pesquisador associado do FGV Ibre. A combinação de reação do mercado financeiro e do universo corporativo, inesperada retaliação da China e resultados negativos que emergiram da guerra comercial – como aumento do déficit, queda no PIB e perda da última nota máxima de avaliação de risco da dívida americana – eclipsou os mais radicais.
Um sinal claro dessa dinâmica, sustenta Ribeiro, foi o fato de o secretário do Tesouro, Scott Bessent, ter assumido o comando das negociações que levaram ao anúncio de um acordo com a China – embora ainda precário. O especialista em comércio exterior considera bom sinal a ascensão de Bessent, porque agora tem "gente que sabe fazer contas" tomando decisões. Mas vê um risco:
— Não é impossível que se veja fogo amigo. Os radicais, que foram ao menos momentaneamente afastados, podem fazer manobras para retomar sua proeminência. A história conta que esse tipo de futrica acontece.
A turma dos radicais é formada por Stephen Miran, chefe do conselho de assessores econômicos, Howard Lutnick, secretário de Comércio, e Peter Navarro, também conselheiro econômico da Casa Branca, considerado o mentor do tarifaço, como agora está claro para mais pessoas, uma coleção de erros, do diagnóstico à aplicação.
Se a visibilidade de Bessent foi maior no caso do acordo com a China, sua ascensão – e afastamento do grupo responsável pelo desastre que foi o tarifaço – começou antes. Ao secretário do Tesouro é atribuído também o recuo representado pela trégua anterior, a das tarifas manicomiais que superavam os 10%, a partir do momento que o mercado financeiro passou a emitir sinais de alerta.
Conforme Ribeiro, Miran é o mentor do "acordo Mar-a-Lago", em tese destinado a substituir o de Bretton Woods, que moldou a economia dos últimos 80 anos. Por isso, diz que a desvalorização do dólar "era planejada, em algum nível, mas é um processo que não dá para controlar":
– Perder valor por um ataque de confiança é algo que a que os EUA definitivamente não estão acostumados. É dinâmica de país emergente. Mas o enfraquecimento do dólar é parte dessa política. De novo, erro de premissa. O efeito era desejado, mas não da forma como ocorreu.
Para o especialista, a forma como foi feito o diagnóstico e a implementação é ruim, e o resultado é que todo o mundo sofre.
— Mesmo os mais trumpistas do mercado financeiro, de Wall Street, que pularam na campanha do Trump com promessas de corte de imposto corporativo, começaram a perceber que esse não é o brinquedo que compraram. E o brinquedo que receberam em troca estava quebrado.