
Foi um dia marcado pela volatilidade no mercado de câmbio: o dólar abriu em baixa, como se esperava depois da perda da última nota máxima da dívida dos Estados Unidos. Depois, passou a subir com estresse fiscal no Brasil, e voltou a murchar pelo efeito da desconfiança sobre os EUA em outras moedas e com ajuda de declarações do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo. A cotação fechou com oscilação para baixo de 0,25%, para R$ 5,655.
Em duas ocasiões ao longo do dia, Galípolo afirmou que o juro vai demorar para descer da estratosfera em que está:
— Dado o nível de desancoragem das expectativas, temos consciência de que, desta vez, precisamos permanecer com essa taxa de juro por mais tempo em patamar restritivo.
A reiteração de viva voz da mensagem da ata do Copom – de que "o cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta" – agradou ao mercado.
Durante o dia, o dólar só se valorizou ante o rublo russo e o rand sul-africano, considerando 33 moedas mais relevantes – real incluído, claro. Ajudou até um relatório do Bank of America (BofA) que considerou o real "cerca de 20% subvalorizado em termos reais ponderados pela sua média de longo prazo e pela maior diferença de valuation entre as principais moedas latino-americanas". Não deixou de observar que um dos riscos é "o governo pressionando por mais estímulos fiscais".
Por que o dólar perde força
1. A perda da nota
Os Estados Unidos perderam a última nota máxima de avaliação de sua dívida. A decisão foi da agência de qualificação de risco Moody's, que a tomou muito tempo depois das duas outras grandes do segmento, a S&P ainda em agosto de 2011 e a Fitch em agosto de 2023.
2. A desconfiança explicitada
Ao justificar a decisão, a Moody's afirmou que "ao longo de mais de uma década, a dívida federal dos EUA cresceu acentuadamente devido a déficits fiscais persistentes". A agência ponderou que, sem ajustes substanciais em tributação (para cima) e nos gastos (para baixo), a expectativa é de que a flexibilidade orçamentária permaneça limitada, com gastos obrigatórios representando cerca de 78% de todo o orçamento do país.
3. Erros em cascata
Embora o enfraquecimento do dólar e até uma eventual renegociação dos Treasuries façam parte dos planos da ala mais radical da Casa Branca, foi essa influência que fez o planeta projetar o território desconhecido das operações financeiras sem portos seguros. Agora, as tarifas não são considerada mais uma possibilidade de arrecadação. O corte de gastos que se projetava com as demissões determinadas por Elon Musk à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, o nome que era piada e prenunciou uma de extremo mau gosto) também não se confirmou.