
O dia havia começado com viés positivo, depois de declarações feitas na quarta-feira (14) do secretário-executivo do Ministério da Economia, Dario Durigan, de que os bloqueios e contingenciamentos no orçamento a serem anunciados na próxima semana representariam uma contenção "significativa" de gastos.
No entanto, o "chefe" de Durigan, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que andava em modo discreto, voltou voltando e esfriou as expectativas, afirmando que as medidas esperadas para o dia 22 serão "pontuais". E acrescentou:
— Não tem pacote da semana que vem. Existe um conjunto de medidas que são corriqueiras.
O resultado foi que o dólar subiu 0,83%, para R$ 5,679, e o principal índice da bolsa brasileira (B3), o Ibovespa, teve alta de 0,66%, para 139.334 pontos, novo recorde.
Haddad tentou conter especulações sobre um "pacote" na mão inversa, ou seja, uma injeção de recursos para incentivar crédito e consumo, o que neutralizaria parte dos efeitos esperados com a elevação de juro feita pelo Banco Central (BC). Mas também acabou passando a mensagem de que a tesoura dos cortes não está muito afiada.
As informações que circulam no mercado são de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende adotar medidas de incentivo como crédito para motociclistas, um novo vale-gás e financiamento para quem vive em moradias precárias.
Haddad tentou negar que isso configure um "pacote", negando que exista "espaço fiscal" (recursos no orçamento) para projetos desse tipo ou mesmo aumento do benefício do Bolsa Família, que voltou ao debate.
Logo depois da fala do ministro, a cotação do dólar e as taxas de juro futuras saíram das máximas, mas o efeito durou pouco. Pouco tempo depois, voltaram a subir, evidenciando a perda de confiança em Haddad depois do episódio do pacote de corte de gastos do final do ano passado.
Por que as medidas têm data marcada?
Está prevista para o dia 22 a publicação do primeiro relatório bimestral de receitas e despesas. É o primeiro, apesar de ocorrer em maio, porque o orçamento da União deste ano só foi aprovado em março.
Que medidas devem ser adotadas?
O que se esperava era uma mudança de estratégia da equipe econômica, fazendo já agora significativos bloqueios (cancelamentos de despesa) e contingenciamentos (limites de empenho, reversíveis), para evitar um final de ano como o de 2024, quando a discussão do pacote de corte de gastos foi demorada e polêmica, e ainda frustrou o mercado e especialistas em contas públicas.
Por que o mercado reagiu mal?
Circula no mercado a informação de que estariam sendo preparadas medidas com efeito expansionista, ou seja, na mão oposta da desaceleração da atividade econômica que o Banco Central pretende provocar elevando o juro para conter a inflação. É um cenário ruim não só por ter esforços opostos do mesmo governo, mas também porque elevar o juro aumenta o custo da dívida, e se outras iniciativas neutralizam o efeito desejado com a alta da Selic, o país gasta inutilmente.