Um dos motivos pelos quais o orçamento de 2022 ainda não foi aprovado — há expectativa de que isso ocorra nesta terça-feira (21) — é uma nova tentativa de elevar o benefício mínimo de R$ 400 do Auxílio Brasil para R$ 600.
A pressão de parte do Centrão — outra já compareceu ao jantar que reuniu Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, por via das dúvidas — tem foco na alta rejeição ao presidente Jair Bolsonaro que aparece nas pesquisas e deu fôlego à hashtag #JáEraJair nas redes sociais.
A onda começou ainda no domingo, quando Valdemar Costa Neto, presidente do PL, novo partido do presidente, começou a difundir a tese de que só um benefício mínimo de R$ 600 poderia reverter a rejeição de Bolsonaro, entre 53% (Datafolha) e 55% (Ipec) que aparece em vários levantamentos de opinião pública.
Na segunda-feira (20), o relativo trânsito no Congresso da proposta do novo aliado de Bolsonaro ajudou a afundar a bolsa de valores, que caiu 2,17% também afetada pela onda de preocupação global com a variante Ômicron do coronavírus.
Em um orçamento que reservou R$ 89,9 bilhões para o Auxílio Brasil, R$ 16,5 bilhões para emendas parlamentares da parte ainda "secreta" da destinação e R$ 5,17 bilhões para o fundo eleitoral, a prioridade de governo e parlamentares fica cada vez mais clara. Ajudar os mais necessitados é uma boa desculpa, mas o que importa, mesmo, é a reeleição.
Se basta escolher um valor, a coluna propõe R$ 6 mil. Afinal, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo suficiente para sustentar uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças, deveria ser de R$ 5.969,17 em novembro.
Garantir R$ 400 já custou uma nova debandada no Ministério da Economia. Não pela quantia, mas pelo atropelo das regras fiscais que provocou. É bom lembrar que esse valor só está assegurado até o final do ano eleitoral de 2022. Chegar a R$ 600, na atual situação das contas públicas e da desconfiança que cerca a atual gestão da dívida pública brasileira, terá um custo muito superior ao do orçamento.
Um benefício de R$ 6 mil parece absurdo? Não é mais do que a divisão de recursos que o orçamento de 2022 propõe. Na segunda-feira (20), a constatação de que o Ministério da Cidadania passa a concentrar o maior volume de recursos na Esplanada, acima das pastas da Saúde e da Educação, chegou a provocar reação de alguns parlamentares, que ainda acreditam ser possível desidratar o fundão para reforçar dois pilares da cidadania e da economia.
Na manhã desta terça-feira (21), há uma importante mudança no orçamento se criando, com direito à redução do fundão: vai para os mais pobres, para a saúde ou para a educação? Não, para os policiais, a única categoria para a qual Bolsonaro não abre mão de um reajuste salarial. Visto do futuro, o biênio 2020/2021 não será marcado apenas pelo pandemônio na pandemia. Será o de maior acúmulo de absurdos por dia no calendário.