A revelação de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem US$ 9,55 milhões em uma offshore (empresa virtual no Exterior) chamada Dreadnoughts International, nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal do Caribe, pegou mal mesmo.
Nesta segunda-feira (4), parlamentares de oposição apresentaram notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) e protocolaram representação para que o Ministério Público Federal (MPF) verifique eventuais irregularidades de Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Além disso, o caso afetou o mercado, e a bolsa cai 2,5% já quase no meio da tarde desta segunda-feira (4). Claro, uma queda desse tamanho não é fruto "só" da revelação da offshore e do que isso significa para Guedes. Mas se juntou às inquietações sobre o preço do petróleo — o brent já é cotado a US$ 81,72 — e a incorporadora chinesa Evergrande, que suspendeu a negociação de ações na Bolsa de Hong Kong — a única aberta na China até quinta-feira, dado o chamado "feriado dourado".
Mas o Pandora Papers foi mencionado nos comunicados matinais e não sai da boca dos operadores. Todos são unânimes em avaliar que a existência da offshore não representa ilegalidade, mas veem risco para a reputação de Guedes e, na mais benigna das projeções, podem tornar o ministro da Economia mais suscetível a pressões internas de governo.
A situação de Guedes fica mais frágil diante da comparação com Campos Neto. O ministro manteve a offshore, que fez movimentações enquanto estava no cargo — segundo Guedes, por iniciativa de sua filha, Paula, sócia na Dreadnoughts International (em português, seria "Encouraçado Internacional", aberta em setembro de 2014, diante da iminente eleição de Dilma Rousseff). O presidente do BC afirmou não ter feito qualquer remessa de recursos nem investimentos desde que assumiu o cargo e fechou uma de suas offshores.
No Paquistão, onde o ministro da Economia também apareceu nos documentos como detentor de uma offshore no Exterior, o primeiro-ministro, Imran Khan, prometeu investigar os envolvidos no Pandora Papers.
As revelações tiveram mais impacto em países desenvolvidos do que no Brasil. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), chamada de "clube dos ricos", defende a tributação sobre ganhos de capital no exterior, sob o argumento de que é uma forma de coibir a evasão de divisas e reduzir a desigualdade social, porque os mais pobres não têm acesso a esse tipo de mecanismo para driblar impostos.