Por volta das 16h30min de quarta-feira (3), o ministro da Economia, Paulo Guedes, ganhou o que pode ser a sétima sobrevida no cargo. Até esse momento, a "mercadosfera" (reações do mercado financeiro nas redes sociais) começava a contar os dias de Guedes na pasta.
Caso não conseguisse "enjaular a besta" dos gastos na combinação entre o auxílio emergencial e a PEC de mesmo sobrenome, o ministro havia afirmado dias antes, o país viraria a Argentina em três meses e a Venezuela em um ano e meio. Mas a frase mais comentada até esse horário era "se tiver que empurrar o Brasil para o caminho errado, prefiro sair".
O "evento das 16h30min" foi um tuíte (abaixo) do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em que negava "especulações sobre furar o teto" e assegurava que não haveria "excepcionalidades". A coluna acompanhava com preocupação as trajetórias do dólar, que havia batido em R$ 5,77 pela manhã, e da bolsa, que acumulava perdas superiores a 3%. Na vigésima atualização, percebeu a inversão das trajetórias. O câmbio fechou estável, e a bolsa com leve retração de 032%.
À noite, o Senado aprovou a PEC Emergencial em primeiro turno, e ficou claro que o tuíte de Lira não foi 100% verdadeiro: autoriza despesas extrateto de R$ 44 bilhões para 2021. O que acalmou o mercado foi um meio "enjaulamento da besta": uma emenda à PEC Emergencial deixava também fora do teto as despesas com o Bolsa Família. A justificativa: liberar recursos do orçamento para "investir".
Também houve ensaio para votar apenas uma autorização, sem qualquer compensação às novas despesas. Nesse caso, Guedes havia sinalizado a interlocutores que deixaria o governo. A PEC Emergencial aprovada apenas em primeiro turno no Senado inclui os gatilhos que o ministro exigia. Se as despesas obrigatórias superarem 95% da receita corrente, haverá o disparo na forma de congelamento de salários e contratações. Mas só em 2025.
A "besta" está contida por uma jaula frágil, mas considerada suficiente pelo mercado: no final desta manhã, o dólar cai 1%, para R$ 5,60, e a bolsa sobe 2%. O Senado aprovou a PEC Emergencial em segundo turno. Para liberar o auxílio emergencial, ainda serão necessários dois turnos na Câmara.