Depois de receber nota zero e ter perdido a credencial de agente financeiro do BNDES, o banco gaúcho Badesul entra de vez na mira do Banco Regional do Extremo Sul (BRDE) - a outra instituição de fomento presente no RS. Comandado em parceria pelos três Estados da região sul do país, o BRDE acumula resultados financeiros positivos e tem bastante credibilidade diante dos gestores do banco nacional. Na mais recente avaliação, em setembro, a nota permaneceu alta (6,7). O índice refere-se aos limites do banco para novas operações com base no patrimônio líquido da instituição.
Com tamanho quase quatro vezes maior que o Badesul, o banco - gestado por Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná - possui uma carteira de R$ 12 bilhões (a do Badesul é de R$ 3 bilhões) e próximo de 600 funcionários (contra 180 do banco gaúcho). De janeiro a junho de 2016, foram R$ 77 milhões de lucro contra R$ 21 milhões de prejuízo do Badesul, que vem acumulando resultado negativo desde o primeiro semestre 2014. Em torno de 90% dos recursos que os dois bancos disponibilizam vêm do BNDES.
– Faz tempo que as duas instituições vêm 'batendo cabeça', disputando mercado. Uma parte da equipe seria transferida para o BRDE enquanto o restante poderia ser alocado em secretarias, como a Fazenda, e suprir a falta de servidores. O principal entrave seria convencer o governo dos outros Estados –afirma um funcionário do banco regional, lembrando que o Banrisul seria também uma boa "solução doméstica" para o problema.
O Badesul conta hoje com uma carteira de cerca de R$ 600 milhões aplicados em títulos públicos. O valor refere-se à quantia que pode ser utilizada imediatamente em caso de necessidade. O BRDE conta com colchão de R$ 2,4 bilhões.
Várias razões explicam a situação financeira mais saudável do BRDE neste momento:
1. O banco tem gestão compartilhada por três governadores, de diferentes partidos e matizes ideológicos, o que impede o direcionamento do banco para políticas muito restritivas ou expansionistas, como a adotada pelo Badesul entre 2011 e 2014.
2. Enquanto o Badesul, seguindo uma linha adotada pelo governo federal até 2014, entrou com força no mercado de óleo e gás e amargou maus negócios com o início da crise na Petrobras, o BRDE preferiu diversificar a carteira.
3. O spread bancário (a diferença entre o custo de captação e a concessão de recursos) é mais elevado. Para fazer concorrência frente a outras instituições, o Badesul chegou a reduzir essa diferença em relação aos demais bancos. Quase um terço do que era cobrado pelo BRDE.
4. BRDE evitou concentrar recursos. Aprovação de empréstimos acima de R$ 1,2 milhão exige autorização das centrais dos três Estados. Só em empréstimos para Iesa e Wind Power, o Badesul chegou a disponibilizar R$ 100 milhões.