
Nunca sei quando joga a seleção brasileira. Quando sei, raramente assisto. E quando assisto, no fim do jogo tenho uma sensação de vazio. Amava nossa seleção, como cheguei a tal indiferença?
Na minha estréia em copas, tive o privilégio de assistir e torcer pela seleção brasileira de 1970. Ela era composta por atletas que carregavam não apenas talento, mas também maturidade. Eram jogadores que pareciam conscientes do peso da camisa amarela, muitos vindos de origens humildes, mas moldados por esforço e obstáculos superados.
Hoje, a imagem é outra: uma geração de atletas talentosos, porém imaturos, que desde cedo são incensados como ídolos antes mesmo de entenderem o que significa representar um país. Os jogadores atuais são produtos de um sistema perverso que os mimou demasiadamente. Identificados como promessas ainda na adolescência, assinam contratos milionários e são tratados como estrelas, antes de amadurecerem como pessoas.
Muitos deles, vindos de realidades difíceis, são subitamente lançados para um mundo de luxo e fama, sem ter tempo de aprender a lidar com o sucesso. Seus nomes ficam associados a cifras elevadas e a disputa de clubes para comprá-los. Isso pode resultar em uma inflação egóica sem o lastro do que é necessário para chegar ao auge e não ficar deslumbrado.
Os atuais jogadores passam mais tempo na Europa do que no Brasil, foram arrancados cedo da sua comunidade, convivem com outros jogadores oriundos de outras realidades. Com isso podem ter experiências enriquecedoras, mas como fica a ligação deles com o Brasil? Será que uma falta de identidade com a nação explicaria as atuações apáticas em campo? Carreiras centradas em fazer um nome não os deixariam individualistas demais?
Enquanto os craques do passado jogavam com raça e orgulho, os atuais parecem perdidos em campo quando estão na seleção. Não rendem como nos clubes onde atuam. Talvez falte aquele amor pela camisa que transformava jogadores em heróis. Será que o fracasso recente da seleção não é só técnico, mas anímico?
Neymar, o maior representante dessa geração mimada e sem noção, está fora. Talvez isso nos devolva a esperança de ter homens e não meninos nos representando.