
Uma pesquisa, publicada no Journal of Medical Ethics, revelou que a maioria dos médicos, caso confrontados com uma doença terminal, optariam pela eutanásia. Esse dado pesa, afinal, são profissionais que conhecem os limites da medicina e sabem o que significa enfrentar dias de dor e sofrimento sem perspectiva de melhora. Se quem lida diariamente com a morte prefere não passar por uma agonia prolongada, por que negar esse direito aos pacientes?
Semana passada, o Parlamento do Reino Unido deu um passo nessa direção ao aprovar um projeto de lei que busca legalizar a eutanásia para adultos mentalmente capacitados, em caso de doenças incuráveis e expectativa de vida inferior a seis meses. O cerne da proposta é o direito de optar por um fim menos doloroso quando a medicina já não oferece alternativas. Se você acredita que só os deuses sabem da nossa hora, bastaria apenas não optar pela eutanásia.
Vale lembrar a diferença entre a eutanásia e o suicídio assistido. Na eutanásia um médico administra uma substância letal. No suicídio assistido, o paciente recebe a substância do médico e é ele que ingere ou administra a substância. Alguns países, como Holanda e Bélica, legalizaram a eutanásia, mas não o suicídio assistido, que é legal na Suíça e em alguns estados dos EUA.
Um dos maiores equívocos em torno da eutanásia é a ideia de que ela representaria uma morte menos espiritual. Associar agonia à elevação moral ou espiritualidade não faz sentido. O sofrimento extremo não ensina lições, apenas consome a pessoa em dor, sem qualquer benefício.
O tabu em torno da morte faz com que muitos encarem o assunto com superstição, como se falar sobre ela atraísse o mal. Evitar o tema não muda sua inevitabilidade, apenas empurra para a marginalidade discussões essenciais sobre direitos e cuidados paliativos.
Lentamente, estamos compreendendo que a vida só vale a pena quando mantida com um mínimo de dignidade. A eutanásia não é sobre desistir da vida, mas sobre respeitar a autonomia do indivíduo até o último momento. O verdadeiro respeito à vida inclui o direito de decidir como e quando deixá-la, com compaixão, alívio e humanidade.