
Os pesadelos de Renato eram variações do mesmo assunto. Voltava para o colégio em um lugar genérico com colegas desconhecidos. Havia uma prova de matemática a ser feita. A folha do teste trazia fórmulas e números e ele não conhecia. Sentia pânico de não passar de ano.
Depois disso, o pesadelo seguia mas em outro patamar, nesta parte ele já adulto. Por causa daquela prova de matemática em que tirou zero, ele seria denunciado e perderia o diploma do primeiro grau. Em seguida, na lógica maluca dos sonhos, como não teria o primeiro grau, não valia também a formatura do segundo grau. Termina com o diploma da faculdade sendo cassado e ele perdendo a profissão.
Os sonhos eram tão desconcertantes que chegou a pensar em procurar um professor de matemática. Mas o que dizer? Mentir que era para ajudar o filho na escola, sendo que nem era pai. Imaginava que acabaria confessando que era por um sonho e que o professor o mandaria procurar um psiquiatra.
Roberto não acredita em nada que tenha o prefixo psi. Arrependeu-se de ter se afastado da religião. Quem sabe poderia se abrir com um padre que conhecesse. Talvez houvesse uma oração que evitasse pesadelos.
Vez que outra, comentava com um amigo seu drama. Não havia empatia, pois ninguém entendia o quanto, ainda que parecesse bobo, isso lhe pesava.
Um dia, um amigo, sabendo que Renato viajaria, perguntou se ele poderia dar carona a seu pai, que iria para o mesmo destino.
A companhia do Sr. Walter, pai do amigo, revelou-se melhor do que o esperado. Conversaram sobre tudo e mais um pouco. Ganhando intimidade, Renato acabou falando dos seus pesadelos recorrentes. O caroneiro perguntou quando os pesadelos começaram. Ele respondeu que ao redor de quando fez cinquenta anos.
Walter pensou, respirou fundo, e deu sua opinião. Disse a Renato que não existe matemática que nos diga quando vamos morrer e nem qual é a soma da nossa vida. A fala produziu um silêncio que durou o trajeto entre Rosário do Sul e Alegrete e terminou com Renato emocionado, agradecendo pelas palavras.
Não tenho informações sobre os pesadelos após a conversa, mas, na minha opinião como analista, Renato deve estar sonhando com outra coisa.