
Não é incomum eu me surpreender ao ler alguma mensagem ou e-mail. Talvez por inocência ou pela minha fé irredutível na humanidade, jamais imagino que uma pessoa possa ver o sofrimento alheio e ser indiferente ou, em casos piores, até achar isso bom.
Na semana passada, duas situações tomaram conta dos meus pensamentos a ponto de me fazerem refletir sobre o que, de fato, é mais importante (ou cômodo) para a sociedade: resolver problemas atacando as causas dele ou justificar as tragédias com base no próprio comportamento do ser humano — jogando a culpa pra cima da vítima, na maior parte dos casos.
Eu fico sempre com a primeira opção.
Vou compartilhar então as mensagens que que me assustaram. Na última terça-feira (17), no Jornal do Almoço, mostramos um homem que trabalha, mas que precisa dormir na rua porque há mais de um ano perdeu a casa na enchente e ficou invisível para os programas de apoio anunciados para quem teve prejuízo no ano passado. Ele tentou, mas recebeu negativas de todos os governos: federal, estadual e municipal.
Sem ajuda e sem desistir, ele não tem vergonha da situação que vive todos os dias.
Agora, depois das reportagens que também foram veiculadas na Rádio Gaúcha, a prefeitura da Capital disse que uma das negativas de um dos projetos que daria 5,2 mil reais para ele estava errada e que, agora então, ele vai receber esse apoio financeiro.
As mensagens (mais de 20) que recebi não foram para perguntar se eu teria o contato ou alguma maneira para ajudar esse homem. NENHUMA. Todas as mensagens sugeriam que ele ou alugasse uma peça pra morar com o dinheiro que está recendo do trabalho novo ou buscasse apoio de projetos do governo (como se ele já não tivesse feito isso e recebido redondos e grandes NÃOS). O restante é impublicável, pois reúne ofensas baseadas em suposições, preconceito e desconhecimento.
As outras mensagens que me incomodaram foram na verdade publicações de conhecidos e amigos que apareceram na minha timeline, não foram endereçadas privadamente a mim o que deixa isso ainda mais grave. Está lá no mural das pessoas que sem qualquer constrangimento resolvem escolher um lado de um conflito armado e potencialmente perigoso para o mundo.
A crescente tensão entre Irã e Israel despertou em algumas pessoas a vontade de escolher um lado.
Vamos pensar juntos? Numa briga a gente deve mesmo escolher alguém para torcer?
Será mesmo que se ganha algo vendo o sofrimento de outras pessoas?
É claro que não.
O único caminho desejável para qualquer conflito é que ele termine. Nada além disso é humano, correto e civilizado.
Ora, somos tão evoluídos. Ou não?