
A próxima terça-feira (20) marca os 150 anos da imigração italiana aqui no nosso Estado. Eu cresci ouvindo sobre o quanto isso fez a diferença na formação cultural e econômica do Rio Grande do Sul.
Todas as pessoas que saem da sua terra para tentar a vida em outro lugar — e neste caso atravessando um oceano — carregam o peso de fazer dar certo. Não há outra opção. É o que acontece hoje em dia com os outros imigrantes que estão vindo pra cá.
Mas em 1875 o mundo era muito diferente. Eu imagino a saudade que eles sentiam das pessoas que ficaram para traz. Quantos desses imigrantes conseguiram voltar para visitar alguém? Eu desconheço. Ao chegar aqui, a vida ganhou um novo ponto de partida.
Subiram a Serra com poucas ferramentas e abriram caminhos. Ajudaram uns aos outros, comunidades surgiram e a fé sempre se manteve inabalável. E quantos santos vieram junto com os imigrantes! Eu sou devoto de Nossa Senhora de Caravaggio.
Não precisa ter descendência direta italiana para ter orgulho dessa história. O maior legado dos imigrantes é justamente alguns dos traços que formaram o povo gaúcho. Somos um povo trabalhador, batalhador. Na enchente, ano passado, a gente viu bem esse espírito de solidariedade e de ajuda, bem característicos de quem entende o valor da vida em comunidade.
Claro que tem a comida boa: polenta, massa, tortéi, agnolini, galeto, nhoque... Bah, essa lista poderia ser imensa! Ah, não posso esquecer do sagu (eu amo bem quentinho, recém tirado do fogo). E toda a tradição cultural das músicas, jogos, jeito de falar, da arquitetura, tudo isso tem que ser celebrado nesse ano tão especial.
Eu nasci e cresci em Caxias do Sul e o valor do trabalho é o ensinamento mais importante que recebi em casa. Isso fez e faz uma diferença enorme na minha vida. Sempre soube que pra conseguir o que eu queria, o caminho era um só: trabalhar. E esse verbo pode ser aberto em muitas possibilidades. Trabalhar duro é se dedicar, botar energia e não reclamar à toa. Chegar cansado em casa feliz por ter tido um dia produtivo é uma sensação muito boa.
Sempre quando eu escuto alguém falar da minha cidade logo vem um comentário como “mas lá só trabalham”. Não é, necessariamente, uma verdade. Eu também acho que só trabalhar e não aproveitar a vida é um desperdício.
Uma vez meu nono me contou a seguinte história:
Perguntaram a um homem por que ele trabalhava tanto e pensava muito em guardar dinheiro se um dia ele iria morrer. E ele respondeu:
— Mas quem tem certeza que eu vou morrer amanhã?