
Há uma batalha pelo futuro da humanidade em andamento. Ela não envolve sangue ou tiros, mas o vencedor vai controlar grande parte do planeta por meio de uma arma que, desde o advento da internet, vem crescentemente moldando as decisões políticas, a economia e até o convívio dentro das famílias.
É a forma como se busca conhecimento que está em disputa. Nos últimos 20 anos, havia um claro vencedor na organização da informação planetária. O Google se tornou tão presente em nossas vidas que virou neologismo. Eu googlo, tu googlas, ele googla e, principalmente, todos nós googlamos, ou googlávamos, porque a onda da chategepetização da vida avança celeremente. ChatGPT, para quem ainda não chegou lá, é o primeiro modelo de inteligência artificial a se popularizar. Escrevi aqui sobre ele quando era uma grande novidade – um robô esperto, como defini – em 22 de dezembro de 2022.
De lá para cá, o ChatGPT, uma criatura da OpenAI, devorou uma fatia do bilionário mercado de buscas monopolizado pelo Google. Hoje, seus prompts, como são chamadas as ordens postas para ele resolver, representam cerca de um sexto das buscas do Google. A cada giro da Terra, o Google recebe de 14 a 16 bilhões de consultas. O ChatGPT já contabiliza 2,5 bilhões de prompts diários.
Em termos de dinheiro, é uma fábula que está em movimento. Da receita total do Google, a enormidade de US$ 350 bilhões no ano passado, US$ 198 bilhões vieram do link azul das respostas de seu mecanismo de busca, o Google Search. Pequenos negócios e quem depende do Google para ter sua marca ou conteúdo descobertos já sente que há algo de estranho, porque as visitas originadas do search caem em toda parte.
A dinheirama da publicidade nas buscas ainda não migrou para o ChatGPT, mas a OpenAI planeja entrar neste mercado nos próximos meses. Não admira que o Google tenha corrido desesperadamente atrás e venha incorporando o “Modo IA” na sua sacrossanta página inicial de buscas. A opção canibaliza as receitas geradas pelos links patrocinados do próprio Google. Só que não há alternativa para quem definiu lá atrás como missão “organizar as informações do mundo e torná-las acessíveis e úteis” diante do plano declarado de Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI, de “ser o cérebro do mundo”.
Nós aqui da planície brasileira, onde as crianças mal sabem multiplicar, somos apenas testemunhas passivas desta batalha, na qual a matéria-prima é todo o conhecimento digitalizado no planeta sem que os contendores necessariamente paguem por ele. Mesmo de longe, vamos começar a sentir cada vez mais – no comércio, na educação, nos serviços, no mercado de trabalho, no nosso dia-a-dia – os ecos e efeitos das duas forças em confronto. É melhor nos prepararmos.



