
Os clubes entenderam a profundidade do buraco financeiro em que se meteram e também a necessidade de recuperar o ecossistema do futebol brasileiro.
A prova está na grande adesão ao convite da CBF para participar do grupo de trabalho para elaboração do Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF), nome de batismo do Fair Play financeiro que será criado aqui.
Dos 40 clubes das séries A e B, 27 atenderam ao chamado do novo presidente da CBF, Samir Xaud. Além dos clubes, oito federações também se candidataram a um lugar na comissão que elaborará o documento. Grêmio, Inter e Juventude estão entre os clubes que se candidataram a uma cadeira.
Aliás, da Série A, não demonstraram interesse o Atlético-MG, Ceará, Corinthians, Vitória e Mirassol. O Corinthians, vale lembrar, enfrenta crise política com o impeachment de seu presidente e tem no comando, neste momento, um interino.
Como será criado o grupo de trabalho
O plano da CBF é montar o grupo obedecendo a critérios como diversidade regional, modelos de gestão e equilíbrio entre a representatividade de clubes e federações.
Consultores independentes com atuação nas áreas de finanças, contabilidade, direito esportivo e governança serão ouvidos para ajudar na definição dos escolhidos para ocupar as cadeiras do grupo de trabalho.
Depois da primeira reunião, será concedido um prazo de 90 dias para que a proposta do modelo brasileiro de Fair Play financeiro seja apresentada.
Por que Fair Play financeiro?
Para que você inclua em seu glossário: a expressão Fair Play financeiro trata-se de um conjunto de regras de controles financeiros que devem ser seguidas pelos clubes, com o objetivo de que não gastem mais do que arrecadam e, a longo prazo, se tornem sustentáveis.
É tudo o que quase todos os clubes das duas principais séries brasileiras não são. O relatório Convocados 2025, que analisou a fundo as contas dos clubes da Série A neste ano, apontou crescimento da receita dos clubes na casa de 10%. Porém, também cresceu o endividamento na casa de 22%.
Finalmente, os clubes se deram conta de que é preciso um trabalho conjunto, dentro de regras rígidas. Só assim terão chance de sair do sufocamento provocado pelas dívidas que crescem de forma assustadora, por gastos acima da arrecadação e pelas taxas de juros dos empréstimos que os mantêm ligados a aparelhos para respirar.
Hoje, temos casos isolados, como o do Flamengo, que passou quatro anos espartanos até atingir o equilíbrio entre receita e gasto, e o do Palmeiras, que contou com a mão endinheirada de um mecenas para sair do atoleiro.
Há ainda casos de donos bilionários que aterrissaram em algumas SAFs, porém, esse é um processo ainda incipiente.
O que o Fair Play busca é que todos, sem exceção, possam respirar bem, independentemente do seu tamanho como clube ou do saldo da sua conta.