O goleiro Eurico Lara virou lenda do futebol gaúcho. Quando morreu, era o grande ídolo do Grêmio, admirado também por adversários. Uma multidão acompanhou o funeral do jogador na tarde de 6 de novembro de 1935. Aos 37 anos, Lara morreu no início da manhã daquele dia, no quarto 96 do Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre.
Pelo registro do óbito em cartório, a morte foi causada por sífilis e aneurisma da aorta ascendente. O velório ocorreu na sede do Grêmio, na Rua Mostardeiro, no bairro Moinhos de Vento. Colegas de equipe carregaram o caixão durante boa parte do trajeto até o Cemitério São Miguel e Almas. O cortejo reuniu grande número de torcedores nas ruas da cidade. O jornal A Federação classificou Lara como “o jogador mais querido do Estado”. O ídolo gremista era casado com Maria Cândida Lara e pai de uma menina, Odessa.
Por 15 anos, o goleiro defendeu o Grêmio. Pelas estatísticas oficiais do clube, foram 217 jogos: 158 vitórias, 31 empates e 28 derrotas. Lara estreou em 15 de junho de 1920, em um amistoso vencido pelo Grêmio por 3 a 0 contra o Juventude, na Baixada. Ele veio de Uruguaiana, cidade onde nasceu e ingressou na carreira militar. No futebol, queria ser atacante, mas, magro e alto, acabou no gol. Corajoso, logo se destacou pelas defesas arrojadas.
Convidado para jogar no Grêmio, teria resistido. Não queria morar na cidade grande, preferia a vida calma da Fronteira Oeste. Por influência de um dirigente tricolor, foi transferido pelo Exército para Porto Alegre.
— Ele morou na Baixada, foi zelador e ecônomo. Cuidava do estádio, desde cortar a grama até arrumar cercas. Também foi treinador de atletas jovens — conta Carlos Eduardo Santos, coordenador do Museu do Grêmio.
Entre 1920 e 1935, Lara ficou apenas uma temporada fora do Grêmio. Em 1928, jogou pelo Futebol Clube Porto Alegre (Fuss-Ball). Defendendo o Tricolor, conquistou 11 campeonatos da cidade e cinco estaduais. A fama rompeu fronteiras. Lara jogou também pela Seleção do Exército e pela Seleção Gaúcha. Foi o maior ídolo do período amador do futebol no Rio Grande do Sul. Respeitado e conhecedor das regras, além de jogador, atuava como árbitro em partidas de outros clubes.

A história de Lara está cercada de lendas, várias envolvendo sua morte. Você já deve ter ouvido que o goleiro morreu em um Gre-Nal, após defender um pênalti cobrado pelo irmão. Em outra versão, teria saído do jogo para morrer no hospital. Nenhuma delas é real.
É fato que sua última partida foi o Gre-Nal Farroupilha, em 22 de setembro de 1935. Devido aos problemas de saúde, Lara jogou apenas o primeiro tempo. Na arquibancada, viu os colegas vencerem o rival por 2 a 0 e conquistarem o Citadino.
Mesmo doente, ainda atuou como árbitro até o início de outubro, um mês antes do falecimento. Segundo o jornal A Federação, o goleiro morreu às 7h10 de 6 de novembro de 1935. O livro de registros da Beneficência Portuguesa indica que a internação ocorreu três dias antes.
Se já não bastassem as histórias e lendas envolvendo o ídolo, na letra do hino do Grêmio, Lupicínio Rodrigues eternizou o goleiro: “Lara, o Craque Imortal.”
Lara em campo em 1925
O Grêmio viajou ao interior gaúcho para uma série de amistosos entre o final de maio e início de junho de 1925. Em Pelotas, a partida contra o Esporte Clube Pelotas foi filmada pela produtora Atlas Film. Descoberto no acervo da Leopoldis-Som, o fragmento preservado tem 48 segundos.
Em um domingo, 31 de maio de 1925, as duas equipes empataram em 1 a 1 no Estádio Boca do Lobo. Tutú fez para o Pelotas e Coró marcou para os visitantes, que jogavam com camisa celeste. As imagens mostram em ação o lendário goleiro Eurico Lara.



