
Era final dos anos 1950 quando a voz de uma menina de 13 anos chamou a atenção daquele apresentador. Ela tinha afinação, mas também uma espécie de magnetismo que hipnotizava o público ao se apresentar. Da observação dele, surgiria o primeiro contrato profissional dela. A estreia foi em seu programa de auditório, em 1958, e lhe renderia o apelido de “a estrelinha da Rádio Gaúcha”. O nome dela: Elis Regina. O dele: Maurício Sirotsky Sobrinho.
Elis e Maurício ficaram 15 anos sem se falar
A despeito da aproximação amigável, os anos seguintes seriam marcados por um rompimento. Maurício era exigente quanto aos ensaios. Sua atração era rigorosamente encenada aos sábados pela manhã e ele fazia questão que todos estivessem presentes. Elis faltou uma. Duas. Três vezes. Ele não gostou. Ela foi suspensa por falta de disciplina. Revoltada, rompeu a parceria e saiu rumo ao eixo Rio-São Paulo, onde mais tarde se transformaria numa das maiores estrelas da música brasileira.
Elis e Maurício ficaram 15 anos sem se falar.
E talvez assim permanecessem não fosse um gesto do filho mais novo de Maurício, que à época comandava o programa Transassom, na Rádio e TV Gaúcha. Pedrinho sabia do rompimento da dupla, mas ainda assim pediu à produção que tentasse agendar uma entrevista com Elis sobre seu show. Nos bastidores, temeu até que a briga pudesse ser utilizada como argumento para uma negativa. Elis aceitou.
E eles conversaram. No ar e fora dele.
Foi nesta conversa que Pedro ousou dizer que o pai morria de saudade dela. Ao que ela reagiu:
“Eu também! Morro de saudade!”. O filho chamou, então, o pai (com quem, aliás, não tinha falado) e repetiu a mesmíssima coisa. Chegou a pensar que levaria bronca. Mas Maurício confessou que adoraria rever a pupila. O saldo: um almoço reconciliador (com algumas palavras impublicáveis!), em Porto Alegre, e dois amigos que voltaram a conviver após anos separados.
Pois é sobre isto que esse texto quer falar.
Nos gritos atuais, são raríssimas as vezes em que vemos alguém disposto a baixar a guarda. Falamos e não queremos ouvir. Aplaudimos quem pensa igual. Cadeia para quem pensa diferente! Não há ambiente saudável para conversa. Amizades são desfeitas por causa de eleição. Onde é que isso vai dar? Não faço ideia, mas não parece bom.
O que sei é que o episódio acima nos lembra que há esperança de dias melhores quando alguém se mostra disposto a ceder. Pode ser que o saldo seja retomar uma bela amizade. Ou, ao menos, que você ganhe uma boa história pra contar.