Querido Álvaro,
Te escrevo com o coração dilacerado, ainda sob efeito de incredulidade diante do que aconteceu. Foi no sábado pela manhã que o Gabardo me chamou, de forma cuidadosa, para avisar que algo grave havia se passado com minha querida Camilla. Não demorou para que eu descobrisse que a dor e a perda faziam conexão contigo, em uma notícia que tirou meu chão e me fez chorar.
Eu queria achar palavras que pudessem te confortar
Talvez os leitores não saibam, Álvaro, quem tu és. E aqui não me refiro à reconhecida trajetória junto ao campo e ao cavalo crioulo, mas à tua maneira simples e generosa de tratar a todos, ao teu jeito capaz de cativar qualquer um que esteja à tua volta. Pra isso, conto um causo. Havia tempo que Camilla reclamava que eu não chamava vocês para as festas da minha família. Eu respondi que jamais faria isso com um casal da estirpe Dumoncel, já que lá em casa falamos gritando, ouvimos música alta e tomamos cerveja de garrafa.
Resultado: vocês driblaram a regra e foram até o nosso piquete no Acampamento Farroupilha. No meio daquele gritedo, tomaram cerveja de garrafa com a gente. Eu não acreditei. O casal do cavalo crioulo prestigiando nossa bagunça. Viraram nossa família. A ponto de eu mandar, na véspera do aniversário do teu sogro, uma sacola com cuca e linguiça que eu havia recém trazido de Santa Cruz do Sul.
Talvez por isso tenhamos todos lá em casa sofrido como se fosse um de nós. Ficamos em choque, “Meu Deus, um homem sensacional”, me disse o Rodrigo. E foi isso que pensei. Não que alguém mereça na vida passar por isso, pelo amor de Deus. Mas tu, Álvaro, é fora da curva. Um homem que sorri com os olhos e que é capaz de dobrar até mesmo o mais carrancudo dos adversários. Não é justo.
Eu queria achar palavras que pudessem te confortar. Mas não as encontrei. Escrevi poucas frases para a Camilla. Reforcei que nossas preces e orações estariam com vocês, expressei o nosso mais profundo pesar.
Ainda assim, não há racionalidade que dê conta do que aconteceu. E é por isso, querido, que decidi tornar pública essa mensagem. Para que mais pessoas se unam numa corrente de oração por vocês. Para que todo o Rio Grande possa expressar carinho e solidariedade. O céu está em festa pela chegada de dois anjos, Maria Sophia e Arthur, eu tenho certeza. E nós, que aqui ficamos, estamos prontos para te dar colo e abraço para que possas seguir em frente, apesar da dor.
Com amor, Kelly e família Matos.