
Odete morreu, de novo. Trinta e sete anos depois, a vilã de Vale Tudo, da TV Globo, foi assassinada pela segunda vez, atraindo a atenção de milhões de espectadores (inclusive desta colunista). Afinal, quem matou Odete Roitman?
A pergunta, na verdade, é outra: como explicar o sucesso de uma novela datada, quase quatro décadas depois, em um contexto tão diferente?
A resposta é: Débora Bloch.
Só uma grande atriz como ela seria capaz de repetir (e até superar) o feito de Beatriz Segall (1926-2018) em 1988. Débora deu à protagonista as feições da nova mulher de 60 anos — dona de si, no auge da vida e pronta "para o jogo".
Curiosamente, nas mãos de Débora, a personagem maldosa (capaz das maiores atrocidades) virou a "queridinha" do público (muito mais do que a apagada Raquel Acioly, de Taís Araujo), estabelecendo uma relação dúbia de amor e ódio com os telespectadores.
Nesse Brasil virado do avesso, não é de se admirar que algo assim acontecesse. Desde que a caixa de pandora foi aberta, há quem se orgulhe de destilar preconceitos. Ao que parece, muita gente se identificou com as ideias intolerantes e discriminatórias da vilã, mas também teve quem comprasse livros.
Sim, porque bastou Odete de Débora aparecer lendo O Perigo de Estar Lúcida, de Rosa Montero, para que, em menos de 24h, o romance fosse parar no topo dos mais vendidos da Amazon.
O jeito de assistir à novela mudou (Vale Tudo é o maior sucesso da história da Globoplay) e as redes antissociais agora são uma realidade, mas há algo que não se altera: a força das grandes atuações.
Débora levou a novela nas costas. E Odete? Bem, não sei quem matou, mas acredito que ela não morreu... ainda.





