A última exposição planejada pela artista Brígida Baltar (1959-2022) — pioneira no conceito de escultura transitória no Brasil e reconhecida pelos trabalhos que tratam das relações entre o corpo e a natureza — vem a Porto Alegre.
A partir da próxima terça-feira (10), a mostra A pele da planta apresenta, no Instituto Ling (leia os detalhes no fim do texto), 40 obras criadas pela carioca, entre desenhos, fotografias e esculturas, além de bordados produzidos especialmente para a exibição.
A exposição foi originalmente concebida em 2020, durante a pandemia, mas teve seu processo interrompido pela morte da artista em 2022, em decorrência de uma leucemia. O trabalho, então, foi finalizado em diálogo entre o curador Marcelo Campos e o Instituto Brígida Baltar, respeitando a poética e a memória da criadora.
Os detalhes serão apresentados ao público na abertura, às 19h, em uma conversa com a participação do curador, do gestor cultural Jocelino Pessoa (diretor artístico do Instituto Brígida Baltar), do artista Ygor Landarin, que atuou como assistente de Brígida, e de Tiago Baltar, filho da artista e também diretor da entidade que leva o nome dela.
Desenvolvida especialmente para a galeria do Instituto Ling, a exibição evoca a atmosfera dos jardins do centro cultural de Porto Alegre. Nos trabalhos, Brígida destacou não apenas os desenhos e as texturas observados nas plantas, mas também situações de desgaste ou pequenas enfermidades.
“A casa e seus jardins, arquitetados para abarcar o Instituto Ling, me inspiraram a elaborar uma exposição (...) que orbitasse em torno das plantas. Há alguns anos, a pele, como superfície, me interessa. As marcas ali fundadas pelo tempo, pelas histórias e pelas memórias. Essa pesquisa agora se estende ao universo vegetal. Plantas também trazem seus traços, evocando afetos e reminiscências”, escreveu Brígida em 2020, enquanto preparava a mostra.
A artista criou os bordados para exposição isolada em sua casa, durante a crise da covid-19. O resultado são bordados mais delicados, de formatos reduzidos, feitos com o que estava ao alcance das mãos, como pequenos panos, linhas e novelos que estavam disponíveis.
A mostra também reúne fotografias e autorretratos da autora que, ao longo da carreira, personificou sonhos e fábulas e emprestou seu corpo para fazer filmes e construir abrigos, originando centenas de obras. Ainda estão presentes na exibição esculturas em bronze e obras mais experimentais, com usos inusitados de materiais.
Sobre a artista

Brígida Baltar (1959-2022 – Rio de Janeiro) começou a desenvolver sua obra na década de 1990 por meio de pequenos gestos poéticos realizados na sua casa-ateliê em Botafogo, no Rio.
Durante quase dez anos, a artista colecionou materiais da vida intimista, como a água de goteiras escorrendo de frestas do telhado ou a poeira marrom-avermelhada dos tijolos de barro das paredes.
Em Abrigo (1996), a artista esculpiu sua própria silhueta em uma parede de sua casa e, ao entrar nesse casulo, transformou a experiência em uma intersecção simbiótica, tornando-se parte da casa na qual habitava.
As ações foram, subsequentemente, expandidas para o espaço da rua, originando obras como Coletas (2001), em que colheu neblina, orvalho e água do mar evaporada, uma tarefa sabidamente ineficaz de captar o impossível.
Em 2005, antes de se mudar de casa, a artista levou grandes quantidades de poeira fina coletada dos tijolos de barro firme. O pó foi usado em trabalhos posteriores, resultando em desenhos de montanhas e florestas cariocas, indícios do espaço íntimo que Brígida compartilha com o mundo.
A presença da escultura na sua obra surge ainda com os tijolos, expandindo-se para outros materiais como cerâmica, vidro e metais.
Ela recebeu diversos prêmios e sua obra compõe diferentes coleções no Brasil e no Exterior.
Serviço
- O quê: exposição Brígida Baltar - A pele da planta
- Quando: a abertura é dia 10 de junho, terça-feira, às 19h, com conversa entre o curador Marcelo Campos, o gestor cultural Jocelino Pessoa, o artista Ygor Landarin e o filho da artista, Tiago Baltar, que também é diretor do Instituto Brígida Baltar. A visitação vai até 9 de agosto, de segunda a sábado (exceto feriados), das 10h30min às 20h
- Quanto: de graça. O bate-papo da abertura também é gratuito, mediante inscrição prévia no site www.institutoling.org.br
- Onde: Instituto Ling (Rua João Caetano, 440 – Três Figueiras – Porto Alegre)
- Visitas mediadas: é possível agendar visitas mediadas, sem custo, pelo site institutoling.org.br/visite