No fundo da sala, um conjunto de traineis gigantes (de 6m70cm de largura por 3m80cm de altura) guarda dezenas de pinturas, uma delas do tamanho de uma parede, produzidas por grandes artistas. À frente, uma imensa vidraça transforma a nova reserva técnica do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) em uma vitrine de preciosidades.
É isso, literalmente.
A partir de meados de julho, mês do aniversário de 71 anos da instituição, o novo espaço fará parte do circuito de visitação, no segundo andar do prédio, e poderá ser visto e admirado, como sempre, de graça.
— O público vai poder ver os bastidores invisíveis do museu — resume Francisco Dalcol, incansável diretor da instituição.
Veja um vídeo do local
Até a enchente de maio de 2024, parte das 5,8 mil peças do museu ficava no subsolo desde a década de 1970 (exceto as obras que estavam em exposição ou conservadas em outras salas).
Antes da água barrenta do Guaíba tomar o espaço, os quadros foram resgatados às pressas e levados para cima. As gravuras, mantidas em pesados armários de ferro, não tiveram a mesma sorte — e seguem no longo e delicado processo de recuperação, nas mãos de restauradores profissionais. Centenas de obras sofreram, direta ou indiretamente, com a umidade.
— Depois do susto que passamos, decidimos que era hora de dar um novo passo. Buscamos referências em vários museus do mundo para garantir que o acervo ficasse seguro em caso de novos eventos climáticos extremos e para que se tornasse visível, porque seria uma forma de valorizá-lo e, ao mesmo tempo, de falarmos sobre educação patrimonial — conta Francisco.
Graças a um aporte milionário do Banrisul, assinado pelo presidente Fernando Lemos, foi possível concretizar os planos e promover uma série de outras melhorias. O Margs de hoje é um museu mais moderno e qualificado do que o Margs da era pré-enchente de 24.
— Antes, a nossa reserva técnica tinha mil metros quadrados. Agora, a capacidade de guarda aumentou 50%, em condições muito melhores. Devemos ter em torno de 800 obras preservadas só neste espaço, à vista de todos — destaca Raul Holtz, coordenador do Núcleo de Acervos e Pesquisas do Margs.
Os traineis impressionam. Estive lá nesta semana para conhecer o local em primeira mão, ao lado do fotojornalista Renan Mattos. Ficamos de "boca aberta" (veja o vídeo).
São módulos de ferro que deslizam como enormes gavetas abertas, onde as telas ficam penduradas em grades. Cada vez que você puxa um deles, é como se uma nova exposição de arte se descortinasse na sua frente, com pinceladas de Portinari, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Magliani, Carlos Vergara e tantos outros.
O teto foi rebaixado, para que o espaço ficasse vedado ao receber a vitrine e, assim, mantivesse as condições ideais de temperatura e umidade (com um sistema exclusivo de ar condicionado), necessárias à manutenção das pinturas.
Com o piso de parquê revitalizado, a reserva ocupa toda ala esquerda do segundo andar (que, com a conclusão dela, será 100% reaberto). É possível caminhar diante da vidraça, em um corredor junto às janelas que dão vista para o saguão principal, no primeiro andar.
Resumindo: é um programaço. Mas é mais do que isso.
A nova reserva salvaguarda e joga luzes sobre obras únicas, históricas e valiosas. Não se trata de "perfumaria". Ali está guardada uma parte importante do patrimônio artístico do Rio Grande do Sul — do nosso patrimônio, da nossa identidade cultural.
Sobre o Margs
O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) é uma instituição pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura. Fica na Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre.
O período de visitação das exposições é de terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h), sempre com entrada gratuita.
No momento, uma nova exposição está em fase de montagem, chamada Margs 70 + 1, em celebração aos 71 anos do museu, realizada em parceria com o Farol Santander. Ela será aberta no dia 24 de junho.
A nova reserva técnica está em fase de conclusão e será inaugurada em meados de julho, em data a ser definida.
O museu terá, ainda, um novo site (mais acessível e moderno do que o atual) e uma nova logomarca.