A Argentina agora tem a sua primeira escola dedicada ao estudo formal da erva-mate. A Escuela Argentina de Yerba Mate, com aulas que se iniciam na próxima segunda-feira (23), vai oferecer certificações da Universidad Abierta Interamericana (UAI).
A proposta é formar “sommeliers de yerba” (a exemplo dos sommeliers de vinho), além de “yerba mate blender” (misturadores profissionalizados) e de alunos formados em "Marketing de Yerba Mate". Os cursos são 100% online, ministrados por Liliana Venerucci e Diego Morlachetti, especialistas em infusões.
Em 2009, a dupla foi responsável pela fundação da Escuela Argentina de Té (chá), onde começaram a ser oferecidos os primeiros cursos de erva-mate há três anos. Devido ao sucesso das aulas sobre o tema, os professores decidiram ampliar a oferta e lançar uma escola especializada no assunto.
A coluna conversou com Liliana sobre o novo projeto e a importância cultural do mate. Leia a entrevista a seguir.
Por que criar uma escola de erva-mate?
A ideia surgiu da necessidade de empreendedores e produtores de ter uma estrutura educacional onde pudessem aprofundar seus conhecimentos, esclarecer dúvidas, usar um vocabulário comum e aprender a se comunicar sobre a erva-mate.
Qual o papel da erva-mate para a cultura argentina?
Somos um país moldado pela imigração e, ao mesmo tempo, onde existem raízes nativas de comunidades que habitaram esta terra. A erva-mate é o símbolo que une raças e entrelaça camadas da sociedade argentina. Seu consumo se distribui de norte a sul, de leste a oeste, e é o alimento mais consumido nos lares argentinos: está presente em 93% dos lares do país. Para os argentinos, o mate representa paixão, amizade e união.
Quais as diferenças entre o consumo de mate na Argentina, no Brasil e em outros países da América do Sul?
As diferenças entre os países que consomem erva-mate se devem ao produto. No Brasil, a moagem é fina, sem envelhecimento. A erva-mate argentina é moída de forma mais heterogênea, contém 35% de talos e é envelhecida por seis a 24 meses. A erva conhecida como "tipo uruguaio", que é produzida no Brasil, é finamente moída, mas também passa por um envelhecimento significativo. Por outro lado, a erva produzida no Paraguai é semelhante à produzida na Argentina, mas se diferencia por ser geralmente aromatizada, com ervas como hortelã ou frutas cítricas.
O que tu achas do chimarrão brasileiro?
O que conhecemos por chimarrão é um legado das comunidades guaranis, tanto para o Brasil, por meio dos portugueses, quanto para a Argentina por meio dos espanhóis. Os europeus foram responsáveis por escrever o conhecimento sobre a erva-mate, que as comunidades guaranis transmitiam de maneira oral. O chimarrão em si é uma bebida muito particular, preparada em uma cuia e com uma boa quantidade de erva. É um produto com alta concentração de clorofila, por não usar erva envelhecida. É bem diferente para o paladar argentino. Tem um sabor menos amargo do que a erva-mate argentina. É muito mais aromática e as notas herbáceas se destacam, devido a grande disponibilidade de clorofila ao longo da infusão.
Como preparar um bom mate, segundo Liliana
- Temperatura da água: não deve superar os 80°C, já que, independentemente da moagem da erva, uma água muito quente resulta em uma infusão amarga
- Higiene: a bomba deve ser higienizada mensalmente com água fervente e produtos como bicarbonato de sódio
- Amor: a pessoa que prepara o mate precisa colocar a erva na cuia, estabilizando-a e despejando a água com calma. É importante realizar todo esse processo com muito amor, dedicação e carinho
*Colaborou Maria Clara Centeno