
Fenômeno de massa que fez do Brasil um país exportador de teledramaturgia, a novela segue firme e forte no país de Vale Tudo, apesar das críticas, do boom das séries e das análises furadas de "especialistas em Ibope".
A prova disso é a recente — e impactante — repercussão das cenas que tratam de um tema mais do que atual no Brasil: a pensão alimentícia, ou melhor, a falta de pagamento dela por um pai ausente e relapso.
Desde 13 de maio, os espectadores estão acompanhando o drama da personagem Lucimar (Ingrid Gaigher), que, depois de anos implorando apoio financeiro do ex-marido ao filho, decidiu procurar a Defensoria Pública para regularizar a situação. A novela mostrou o passo a passo de forma didática, quase pedagógica.
De lá para cá, o assunto segue se desdobrando, com a revolta do ex-marido e o machismo estrutural de amigos e conhecidos (que culpam a mulher por "prejudicar o pai de seu filho"). Os reflexos na "vida real" já começaram a aparecer.
No momento em que Vale Tudo começou a abordar o tema, a Defensoria Pública registrou 4.560 acessos por minuto no seu aplicativo. O pico de procura chegou a 300% acima da média. No total, foram 270 mil acessos inspirados na trama, que tem trazido outros temas candentes ao debate público.
Alguns exemplos: o racismo velado de Odete Roitman (Debora Bloch), a quebra do discurso etarista usando a vilã como modelo (é uma mulher de 60 anos com vida sexual ativa), a união homoafetiva entre duas mulheres e a adoção de uma menina negra de 7 anos, sem contar todos os dilemas morais e éticos que perpassam o texto (vale tudo para "ficar rico"?).
Faço parte do time de noveleiros que está assistindo a Vale Tudo no Globoplay — não mais na TV aberta, com hora marcada, mas quando posso e quero. Há quem diga, com base no Ibope (que já não capta as mudanças na audiência nem as nuances do público), que o remake fracassou e que as atualizações no roteiro deram errado. Ledo engano.