Tombada pelo patrimônio histórico nacional, a Rua da Ladeira, uma joia no coração de Rio Pardo, a 150 quilômetros de Porto Alegre, ganha novos ares. No topo da alameda que ostenta o título de primeira via pavimentada do Rio Grande do Sul, dois prédios majestosos — erguidos entre o fim do século 18 e o início do 19 — voltam à vida.
Um deles, de 1798, conhecido como Solar dos Panatieri (onde viveu Luciano Panatieri, primeiro médico negro formado na Faculdade de Medicina de Porto Alegre), acaba de ser restaurado por iniciativa de um grupo de empresários locais.
O outro, que data de 1851 e já abrigou a prefeitura (além de hotel, maçonaria, escola e até salão de baile), está sendo revitalizado com recursos dos cofres municipais, por decisão do prefeito Rogério Monteiro.
É uma baita notícia para o Estado e um exemplo a ser seguido. Ponto turístico da região, o local tem tudo para ser um destino capaz de atrair visitantes do Brasil e até do Exterior. Por que não?
Estive lá na última semana e fiquei encantada com o que vi. O casarão já concluído (onde Dom Pedro II jantou e dormiu em 1865) foi alugado por um jovem casal de empreendedores, Stephanie Della Giustina e Lucas Silveira, e vai virar restaurante: o Seu Domingos - Gastronomia e História.
O nome homenageia o avô de Lucas (empresário do ramo da alimentação muito conhecido na cidade), e o espaço será inaugurado em 6 de junho, às 18h30min.
No início, funcionará à noite, com pizzas artesanais. Depois, a ideia é ampliar os horários e oferecer inclusive o famoso sonho de Rio Pardo, cuja receita original será aprendida por Stephanie com as integrantes da associação dedicada à iguaria.
— É um sonho sendo realizado. Queremos reabrir a casa para todos, receber bem moradores e turistas e fazer jus a esse patrimônio, que admiramos desde crianças — diz a empresária, historiadora de formação.
Na antiga prefeitura, as obras começaram em fevereiro e devem se estender até o fim do ano, com aporte inicial de R$ 1,6 milhão.
Quando estiver pronta, a estrutura abrigará o gabinete do prefeito, o arquivo histórico (que tem 100 mil documentos, desde 1768, incluindo as atas de criação dos primeiros quatro municípios do RS) e o memorial da cidade, além de uma cafeteria, da Casa do Artesão, da Casa dos Sonhos de Rio Pardo e de um conjunto de banheiros públicos.
— Até pouco tempo, os dois prédios eram esqueletos, fechados há anos. Estamos muito felizes com essa recuperação, porque é uma esquina icônica da cidade — destaca a arquiteta Vera Schultze, responsável pelo projeto de restauro da antiga prefeitura e coordenadora do Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico de Rio Pardo, reativado na atual gestão.
À frente da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura, Tatiana Bonatto, está vibrando — e com razão.
— Nossa cidade é muito rica em memória e nós não podemos perder isso. Precisamos valorizar o que é nosso — diz Tatiana.
No que depender aqui da coluna, vai dar certo!
Mais detalhes

- A Rua da Ladeira teve a pavimentação executada por escravizados em 1813, com pedras retiradas do rio Jacuí
- A obra foi inspirada na Via Ápia romana, com escoamento da água pelo centro
- Nas esquinas, há frades de pedra, que, no passado, eram usados para amarrar cavalos
- A via já foi chamada de Rua Direita, Rua do Imperador e Silveira Martins. Hoje, é Rua Júlio de Castilhos
- Foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1955 e segue preservada
Igreja Matriz

A Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, em Rio Pardo, também teve obras de restauro iniciadas recentemente, com recursos do governo do Estado.
Segundo o arquiteto Lucas Volpatto, do escritório Studio 1 Arquitetura, responsável pela restauração, o trabalho está concentrado no telhado.
Em breve, trarei mais detalhes. É outra boa notícia.