
"Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade." (Sêneca)
Ninguém é fonte de luz para si mesmo. Estamos sempre à cata de algum modelo que sirva de desafio ou quem sabe de inspiração, não importa o quanto a materialização daquele ideal pareça inalcançável. Essa tarefa inspiradora funciona ao longo da nossa trajetória pessoal como uma corrida de revezamento, sendo que os pais são em geral os responsáveis pela primeira passagem do bastão.
Essa dependência, criticamente importante na juventude, se arrasta pela vida afora, com períodos de sofrida agudização, como quando escolhemos uma profissão, determinados a ser o melhor que pudermos fazendo o que faremos, seja lá o que for.
Um momento crucial para o futuro profissional de cada um é quando o jovem, inevitavelmente imaturo, ostenta uma autonomia impossível, simplesmente para disfarçar o medo de estar fazendo tudo errado.
Como é inerente à natureza humana sentir-se inseguro nesta fase da vida, cabe ao professor a sensibilidade de reconhecer que aquela atitude de aparente soberba precoce nada mais é do que um pedido explícito de socorro na eleição das melhores escolhas.
Preparar uma escola para moldar profissionais do futuro devia obrigatoriamente selecionar para a nobre função de professor modelos bem-sucedidos.
Nada mais injusto para um jovem carente de orientação do que encontrar na universidade um arremedo de professor que só tem a oferecer o desencanto da sua própria infelicidade.
Preparar uma escola para moldar profissionais do futuro devia obrigatoriamente selecionar para a nobre função de professor modelos bem-sucedidos na sua área de atuação específica, porque desilusão profissional é contagiosa e não há nada mais injusto do que semear amargura na idade em que naturalmente temos audácia e força para desafiar o mundo a ser do jeito que pretendemos.
Se não vamos conseguir logo adiante, que ao menos o nosso fracasso seja original e não tenha sido influenciado pelo desânimo de quem, naquela idade mágica, também sonhou ser melhor, não conseguiu e amargurou.
Atropelado pela aposentadoria compulsória, sempre carente do convívio com a juventude e tendo esta necessidade apenas parcialmente compensada pela condição de professor voluntário da escola da minha devoção, festejo a iniciativa de oferecer o curso A Medicina da Pessoa, uma atividade de extensão que conta com o respaldo acadêmico da UFCSPA e o indispensável apoio do Centro de Ensino e Pesquisa da Santa Casa. É estimulante perceber os primeiros frutos de um curso, gratuito e online, que nas cinco edições já matriculou mais de 2,5 mil alunos de 41 das melhores faculdades de medicina do país.
Mia Couto definiu velhice como aquele ponto em que estamos satisfeitos com o que somos e abdicamos de ser um outro, deixando a cada um dos interessados a decisão de dar prazo de validade a este conceito. Reconhecendo como tolo o desejo de alterar o curso da vida, mas sem a menor intenção de desistir, não custa nada pretender que os médicos do futuro sejam melhores do que fomos.