
Há dois tipos de papa, e só dois, que os especialistas esperavam que saíssem do conclave de cardeais reunidos em Roma para eleger o sucessor de Francisco I. Dentro da mendicância mental que governa hoje a maior parte do pensamento humano, o novo papa ou será uma maravilha ou um troglodita empenhado em devolver a Igreja Católica à baixa Idade Média. Um possível modelo dois-em-um, algo entre os dois extremos, não estava sendo considerado. Naturalmente, há considerações que não combinam com o que se diz no mundo das ideias. Uma delas levanta a possibilidade que os cardeais, não tendo lido as análises que explicam o que há por dentro das suas cabeças, acabassem escolhendo o novo papa com base no puro e simples pragmatismo — ou o que presumem ser o caminho mais racional para a Igreja.
Muitos dos comandantes da hierarquia católica, e número ainda maior de subordinados, são francamente a favor do suicídio — continuam empolgados com a ideia de que a Igreja deve abandonar suas preocupações com a religião, e liderar a hoste global do socialismo-igualdade-inclusão-mudança do clima-linguagem neutra e o resto que você sabe. Mas era possível que o instinto de sobrevivência que levou a Igreja Católica a sobreviver por 2 mil anos voltasse a se manifestar e o conclave acabasse se inclinando para a solução mais lógica.
O que seria a solução mais racional nas atuais circunstâncias? Seria optar por uma mudança de rumos capaz de levar a Igreja a agir na defesa objetiva dos próprios interesses — que são, no fundo, os interesses da fé católica. Teria, para isso, de voltar a falar em religião para os seus fiéis; teria, de novo, de ser o centro da sua vida espiritual. Ou faz isso, e recupera a sua força moral, ou perderá cada vez mais a sua relevância.
A Igreja Católica, há cerca de 50 anos, decidiu tornar-se cada vez mais uma organização política — e há 50 anos vem perdendo terreno perante as outras profissões de fé. O desastre, aí, foi esquecer que o catolicismo é algo que as pessoas procuram para responder às demandas da alma, e não para obter instruções de conduta política. O cidadão não vai à missa para que o padre lhe diga em quem deve votar, ou lhe exiba uma bandeira da Palestina. Não quer receber aulas sobre o que tem de achar sobre os índios ianomani ou o uso de “agrotóxicos”. Um papa que faz bem à Igreja é o papa que conduz o catolicismo de volta à sua essência — fé religiosa, valores éticos, comportamento como ser humano. A Igreja Católica, ao contrário do que acham os “progressistas”, não tem problemas por ser “conservadora”. Seus problemas, todos eles, vêm do fato de que o catolicismo vem se transformando, cada vez mais, em algo inútil para vida do espírito.