
A Organização das Nações Unidas (ONU) considera uma taxa acima de 10 assassinatos por 100 mil habitantes como uma epidemia de violência. O Brasil, com sua média de 21 homicídios por 100 mil habitantes, tem mais que o dobro desses números recomendados pelas Nações Unidas, que só costumam vigorar no Primeiro Mundo.
Pois Porto Alegre chegou lá. Sua última taxa é de 10 assassinatos por 100 mil habitantes, primeiro mundista. Mais próxima dos números registrados nos Estados Unidos (média de cinco homicídios por 100 mil) do que no Brasil (com suas 21 mortes por 100 mil). Tanto a capital gaúcha como o Rio Grande do Sul como um todo tiveram, no ano passado, a menor série de homicídios de sua história.
Muita gente vai pensar: e daí? Quase sempre são mortes de criminosos, assassinados por outros delinquentes. O que é uma verdade. Na maioria são acertos de contas entre quadrilhas ou dentro delas, vistos com alívio por grande parte da população (apesar do risco das balas perdidas).
Mas as boas estatísticas não se resumem aos homicídios. 2024 teve redução de 26% nos latrocínios (mortes durante assaltos) em relação ao ano anterior, uma estatística que vem caindo ano a ano. E, convenhamos, só inocentes morrem durante roubos.
A redução nos assaltos a pedestres foi de 41% e, nos roubos de veículos, 37%. O desafio é enfrentar o crescimento dos crimes virtuais (um fenômeno planetário) e impedir que feminicídios continuem a subir, como ocorreu este ano.
Esses números nada tem a ver com bairrismo. São estatísticas que refletem um trabalho paciente de gestão na segurança pública, que começou com aumentos de salários dos policiais no governo Tarso Genro (PT), passou por remoções de chefes de facções para prisões de segurança máxima durante o governo José Ivo Sartori (MDB) e culminou com estratégias de asfixia ao crime organizado durante os dois governos de Eduardo Leite (PSD).
Leite e seu braço direito, Ranolfo Vieira Junior (que também foi governador), turbinaram o RS Seguro. É um programa que direciona policiais para as cidades mais violentas, sufoca pontos quentes de tráfico e homicídio, implanta sistemas de vigilância eletrônica e com câmeras nas principais estradas e avenidas e castiga lideranças criminosas com rigidez nas prisões e indiciamentos por assassinato, entre outras medidas. É provável que as facções, diante desse quadro rigoroso, tenham se convencido e até feito pacto para matar menos. A sociedade é beneficiada.
Fosse Leite governador no eixo Rio-São Paulo-Distrito Federal, talvez os bons números na segurança o tornassem competitivo na disputa pela Presidência da República. Ou não, porque dependeria de muitos outros fatores. De qualquer forma, os gaúchos, no campo do combate ao crime, podem cantar sem medo aquela estrofe do Hino Rio-Grandense: "Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra". Oxalá elas perdurem.

